segunda-feira, 29 de março de 2010

Criação literária


Este blog um dia destes vai fazer dois anos e quem por aqui passa e não vai apenas passando já terá reparado que tenho postado menos, andado mais ausente destas e de outras paragens virtuais. Não posso dizer que é desencanto, nem que o que me motivava há um ano atrás me deixou de motivar, mas na realidade a minha vida mudou radicalmente neste último ano, nem tudo foram rosas e nem tudo foram ainda prosas mas os espinhos também não foram mais do que arranhões e comichões, coisas que incomodam mas que não deixam marcas, coisas que o tempo tornarão insignificantes.

Posso dizer que dentro dos muitos tipos de blogs que por aí pululam este é um que mostra a música que me apetece ouvir e a minha criatividade na manipulação das palavras em formar coisas escritas. Já tive por aqui quem me dissesse que tinha jeito para escrever, já tive por aqui gente que disse que eu não percebo nada disto mas tenho a mania que percebo e gente que nem se rala se eu escrevo bem ou mal mas que gosta ou se diverte ou se acalenta com o que lê por aqui. Na realidade eu, acima de todos os que por aqui passam, gosto do que escrevo e de como escrevo, eu sou o meu maior critico e apreciador e por isso tenho postado menos, porque agora ao contrário do que acontecia há um ano atrás já não encho chouriços, escrevo quando sinto vontade e necessidade escrever e o que sai me dá prazer de ler.

Tenho lido alguns dos blogs que por aí pululam e há por aí alguns muito bons e de gente que tenho que reconhecer que escreve bem e que até me deixam com uma pontinha grande de inveja, muitos estão ali ao lado evidenciados mas há outros que por vezes espreito e que não consigo perceber o que leva a achar quem escreve e quem lê que vale a pena continuar. Não vou dar exemplos, mas desgosto sobretudo dos que semeiam palavras caras e com muitas sílabas e de preferência completamente desconhecidas do comum dos leitores, há que impressionar pela evidência da sabedoria do escritor sobre a ignorância do leitor, porque quem não consegue perceber a beleza da veste do rei que vai nu ou é muito burro ou para lá caminha.

Gostava de saber escrever como escrevem os grandes escritores. Os textos que me dão mais prazer de ler foram invariavelmente escritos por mim num frenesim em minutos e sem mudar uma única palavra, como num transe criativo. Eu acho que o que me separa dos grandes escritores é que eu apenas consigo ter transes criativos de curta duração e que estes os conseguem manter no tempo que intervala o era uma vez e o fim. Que raio de merda esta de não ser mais do que um gago criativo…



Pearl Jam- Just Breathe

segunda-feira, 22 de março de 2010

Comboios


Sinto saudades do tempo em que os comboios eram enormes na minha perspectiva de menino e me deixavam a pensar que eram coisas zangadas, veneráveis e respeitáveis porque faziam barulho e fumo e cheiravam a cheiros que eu não cheirava em mais lado nenhum. Sempre gostei de comboios. Sempre achei que um dia como o de hoje poderia procurar um comboio que me levasse para um outro sitio qualquer. Sempre imaginei que um dia chegaria de gabardine cinzenta e chapéu de aba, elegante e distinto de mala imaculada de cigarro no canto da boca como num filme negro sem outras cores que não as que derivam do branco e do preto e que estaria parado na gare um grande comboio, qual ser ou máquina mitológica à espera que eu chegasse, o tal passageiro especial à volta de quem toda a acção se desenrola e que calmamente entraria a bordo com um olhar enigmático tiraria o chapéu sorrindo para os outros já sentados que espantados com a minha presença nada diriam, pela sua condição de meros figurantes e que me iria sentar no melhor lugar da carruagem junto à janela depois de ter depositado em segurança a mala num compartimento à altura da minha cabeça. O comboio partiria e tudo o resto seria uma aventura cujas dificuldades apenas serviriam para demonstrar as minha capacidades e o final nada mais do que seria feliz.

Afinal na vida real existem apeadeiros ou locais por onde os comboios passam nem sempre parando mas eu sim estou aqui parado e o pesado casaco já me fez suar debaixo da chuva quente desta meia estação e os cigarros que fumei são vazios de encanto e cheios de nicotina que me faz tossir e cheirar mal e tenho pousada uma mala velha cheia de roupa e outras coisas que lá enfiei sem critério e espero que ainda pare por aqui um comboio em breve, porque nem sempre param, porque este é um mero ponto de passagem onde esperam pessoas vulgares, pessoas de apeadeiros, pessoas que estão num meio entre destinos que não é tão importante para que todos os comboios lá parem. Estou num meio entre destinos e tenho no bolso um bilhete de comboio que gostava que me garantisse passagem segura a um outro sitio qualquer que não sei onde fica e não quero saber como lá chegar mas espero que o comboio lá me leve, seguro sobre os carris assentes por quem aprendeu antes de mim o caminho que leva a esse outro sitio qualquer.

Sei que passei por louco quando disse ao cobrador que queria um bilhete para um outro sitio qualquer e nem me sorriu quando perguntou se queria que esse outro sitio qualquer fosse outro longe ou outro mais perto. Longe o mais longe possível, quero que o que me custou a partir me compense o que vai demorar a chegar, quero ainda poder apreciar a viagem, sem tempo ou pressa, ver a paisagem até que me pareça que é ela que se move no meu referencial parado num ponto para onde o ponteiro do relógio apontou e não mais se mexeu. Não me importa as etiquetas de covardia e desprezo com que vão classificar a minha fuga, aliás já nada me importa, quero ser neste comboio o mesmo passageiro insignificante que fui na vida, quero não ser notado nem pelo meu riso nem pela minha lágrima, já não me importa sequer ser memória, quero apenas poder embarcar depressa no comboio que me leve aquele outro sitio qualquer sem nunca lá chegar até que a morte da vida me separe.


The Clash - Train In Vain

sábado, 20 de março de 2010

Fabulando [2]


e o Januário acabou a ir pelos ares…
…E aterrou estatelado no solo com todas as penas em desalinho meio tonto senão tonto de todo sem perceber o que se tinha passado, o pato ria a bandeiras despregadas com o bico tão aberto que parecia que só tinha bico e a vaca de pernas bem escancaradas e rabo no chão esfregava a genitália na relva e gritava de aflição. Januário que podia lá ter a mania que era galo mas no fundo era boa ave, levantou-se a correr em direcção à vaca para lhe perguntar: “magoei-te querida? Fui muito bruto?” o que ainda fez com que o pato mais se desmanchasse, tanto que quase só faltava cobri-lo de arroz e levar ao forno. A cena era realmente digna de um bom realizador Italiano daqueles que é pecado dizer que não se percebe patavina o que querem dizer, a vaca que se esfregava com ar doloroso, o pato que se rebolava de asa na barriga a grasnar risadas e o pobre do Januário galo de boa criação aflito com a donzela em sofrimento.
No fim tudo se acalmou e a Vaca que até tinha nome mas que o guardava só para si porque na vida que levava gostava de o preservar a bem da família, lá se recompôs das pernas e depois de respirar fundo uma ou cinco vezes pediu desculpa ao galo porque não sabia o que se tinha passado e que nunca antes se tinha passado daquela forma e ambos se viraram para o pato como se à espera que dali, viesse a sabedoria que os esclarecesse e este quando reparou que só ele ainda achava graça à história de uma vaca quase entrar em dores de parto quando acirrada por um galo velho lá encolheu os ombros e disse ao galo que o melhor era irem beber um copo à tasca do Horácio porque pelos vistos a vaca era alérgica a cabidela. Ahhh, disseram vaca galo com alívio e o pato que era sacana como um macaco não pôde deixar de reparar na ironia do trocadilho.

O Horácio contrariamente ao que se podia por um momento pensar não era um cavalo mas um cão rafeiro que se dizia perdigueiro e que era dono de uma taberna ao fundo da terra no cruzamento da estrada que vinha debaixo com a outra que ia para cima. Animal vivido tinha sempre uma boa história para contar desde que não se fosse para o tasco fazer sala e sorriu quando viu entrar as aves, o pato que conhecia pelo nome de Alfonso ou lá o que era e o seu grande amigo Januário de que se lembrava desde o tempo de pinto, recebeu-os de patas abertas e logo perguntou o que queriam beber. Ficaram-se pelas cervejas porque estava calor e lhes apetecia leguminosas mas que estavam salgadas como tudo e atrás de um pires veio outro e passado um bom bocado já atafulhavam os bicos de gargalhadas e cascas de tremoço e a mesa composta com canecas alinhadas pelas asas.
O Horácio ao vê-los tão animados foi-se chegando e num sussurro disse-lhes que tinha uma coisa para contar mas que só sobre juras de segredo daquelas inquebráveis sob pena de lhes cair todas as penas, lhes podia contar…



Madness - One Step Beyond

quarta-feira, 17 de março de 2010

Fabulando [1]


Januário era um galo que já não tinha a crista tão altiva como antigamente e a voz esganiçava-se para ainda acordar a vizinhança mas não queria de forma alguma dar parte de fraco e mantinha a galinhagem sempre de rabo encostado à parede, mais pelos arremessos e bater de asas do que pelos arrebites porque na realidade aquilo que tanto o orgulhara na juventude já pouco ou nada se levantava.
Um dia em conversa com um pato faroleiro da vizinhança que por ali passara para trincar umas maçãs que por aquela época caiam em abundância da velha macieira junto ao córrego, soube que havia não muito longe dali uma vaca nova que era um espectáculo de criatura com uns quadris arqueados e tetas rosadas espetadinhas e que não era nada esquisita não se importando de dar umas baldas a quem fosse que fosse com vontade de a pôr a mugir com gosto. Claro que o Pato se gabou de já lá ter ido e que a coisa tinha sido de tal forma que a bovina até esfregara com os cornos no chão de tanto prazer e o Januário que nunca fora de levar desaforo para casa disse logo que amanhã mesmo lá iria cantarolar à dita e que se ela fosse na conversa não só a poria de chifres bem enterrados como todo o lameiro ficaria bem lavrado com o arrastar do bicho. O pato que era esperto como um sabujo e percebendo que o galo só estava a cantar de galo quis apostar que ele nem a faria balir e o galo não teve outra hipótese sob pena de cair em descrédito com as frangas de aceitar a aposta.
No dia seguinte ainda o Sol não ia muito alto no céu, já o desgraçado do pato o esperava ao fundo do caminho com ar de ganso convencido e Januário lá teve que ir atrás dele certo que aquele seria o caminho que o levaria ao fim dos seus dias de soberania na capoeira e que para além de ir perder como paga da aposta aquelas três penas do cu que tanto se orgulhava ainda iria ter que aguentar com a história de fracasso que o malfadado anfíbio poria a circular. Mal chegado avistou logo a bela da vaca ruminando sobre a erva verde e que bela ela realmente era, toda branca com malhas negras bem dispostas e grandes olhos pestanudos, uma tesão noutros tempos e agora apenas uma comichão mas lábia ainda tinha e depois de um pequeno prefácio de dois dedos de conversa a animal lá percebeu ao que vinha e encolheu os ombros e piscou o olho em sinal que queria festa e o bom do Januário lá se encavalitou na sua traseira para pelo menos dar o seu melhor e depois foi um ver se te avias a vaca de repente desatou aos saltos e aos pinotes e o Januário acabou a ir pelos ares…

(Nota do autor: Estou cansado vou dormir acabem lá a história por mim sff.)


Fun Boy Three - The Lunatics Have Taken Over the Asylum

terça-feira, 9 de março de 2010

Esperarei por ti…

…O tempo que for preciso.

Skylark
Have you anything to say to me
Won't you tell me where my love can be
Is there a meadow in the mist
Where someone's waiting to be kissed

Oh skylark
Have you seen a valley green with spring
Where my heart can go a-journeying
Over the shadows and the rain
To a blossom-covered lane

And in your lonely flight
Haven't you heard the music in the night
Wonderful music
Faint as a will o' the wisp
Crazy as a loon
Sad as a gypsy serenading the moon

Oh skylark
I don't know if you can find these things
But my heart is riding on your wings
So if you see them anywhere
Won't you lead me there
Oh skylark
Won't you lead me there


Renee Olstead & David Foster - Skylark

sexta-feira, 5 de março de 2010

Porque hoje é mesmo sexta…


… e a Story que é aquela miúda que sabe mesmo tudo deu o mote desta música fantástica que os Cure fizeram em resposta aos New Order e porque hoje é mesmo sexta deixo-vos aqui um desejo e um desafio de vida, ora ouçam lá com atenção a letra.


The Cure-Friday I’m In Love

terça-feira, 2 de março de 2010

Inquisitório - Sobre existencialismos e outras coisas acabadas em ismos ou paralelismos no mesmo tom

Estamos num inverno que parece teimar em continuar cinzento e húmido e de todo o lado vêm sinais que anima quem nos quer desanimar com imagens apocalípticas e já agora vender um lugar cativo para um espectáculo do fim do mundo. Este é o tempo propício para pensamentos de dúvida e ideias de incerteza. Do optimismo do pessimista se faz o pessimismo do optimista e apetece-me uma resposta original a estas perguntas:

1- Levantar de tarde numa manhã de domingo é uma questão de orgulho ou de preconceito?

2- É mais aceitável socialmente tirar macacos do nariz ou do sótão?

3- Optas pelos teus slips dogmaticamente ou paradigmaticamente?

4- Porque é difícil de acreditar que a descrença no amor à primeira vista não é apenas miopia?

5- Chanel?

6- Pensão completa com Jacuzzi no inferno ou com sauna no paraíso?

7- Por quanto tempo pensas que podes parar no meio do parque a olhar os pássaros chilrear, as flores a crescer, as crianças a brincar, os cisnes brancos flutuando no lago e o calor do Sol a aconchegar-te o corpo envolto numa brisa suave sem que um pombo te cague em cima?

8- Por que raio a música deste post fala de uma segunda-feira se hoje é terça?


New Order - Blue Monday