terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O dominó idiótico

Apesar de tudo ainda ambiciono a criação.

Quero acreditar que a partir de uma simples ideia é possível desenvolver, através da inclusão de palavras, coerências na forma de frases, que agrupadas, ordenadas e somadas, se convertem em parágrafos, rascunhos ou precisões de um plano mental que se originou apenas porque alguns neurónios num acto casual se puseram de acordo.

O meu fluxo criativo é linear, sem complexidades estruturais. As minhas ideias são alinhadas, uma após outra, como pedrinhas de um dominó que se tropeçam quando florescem. A minha formação é tecnocrática, mais matemática que semântica e a imaginação que gero é fruto do esforço, tentativa e erro de contrariar a naturalidade da lógica que rege a minha presença no mundo real.

Por incompetência noutras expressões, atrevo-me na utilização da língua e que me perdoem os que o fazem dignamente ou de forma bela, não pretendo ser uma afronta à sua arte. Gosto das palavras e do que se pode construir com elas, uso-as pela sua forma e sequencio-as pelos padrões que se originam no seu conjunto. Ignoro muitas vezes as suas regras de utilização, consciente que com a minha ambição arrisco-me sobretudo à consequência da falha.



Caetano Veloso - Língua

1 comentário:

mf disse...

"que me perdoem os que o fazem dignamente ou de forma bela, não pretendo ser uma afronta à sua arte"

Tu usas a palavra com arte, ou ainda não te apercebeste? Com uma arte diferente do normal, não inteligível para muita gente, e por isso mesmo interessante.

Mas tu sabes isto tudo. :)