segunda-feira, 14 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 11 – (Se eu soubesse o que sei hoje não me tinha baldado às aulas de surf…)

Não sei se é normal mas ao ouvir e ler e ver as noticias e as imagens do tsunami no Japão, lembrei-me do Godzilla e de toda a bicharada mitológica que vinha do mar para arrasar com os pés e o bafo, tudo e todos. Não sei se é normal mas fico com a sensação que se perguntarem ao nosso povo o que é que realmente acham da situação, haverão alguns que dirão que com o mal dos outros posso eu bem ou outros mais que acharão que lá é tão longe que não deverá chegar cá e de certeza que todos com excepção pensam que aquilo foi chato mas aquela malta é eficaz, trabalhadora, prevenida, organizada e bem capaz de lidar com a coisa e que tão depressa como cedo vai estar tudo outra vez direitinho e não haverá atrasos no lançamento da Nintendo 3DS ou da Playstation 4.

Temos pois para nós que se uma tragédia tem que acontecer que aconteça a quem esteja preparado para ela e que tenha meios depois para levantar a cabeça sem nos vir incomodar muito porque isto por cá também não se pode dizer que esteja famoso. Isso não quer dizer de forma alguma que encaremos a coisa com desprezo ou que nos falte piedade, muito pelo contrário, porque se há povo capaz de sentir as chagas de outro, esse povo é o povo Português mas na nossa visão tão ocidental e ingénua admiramos e invejamos aquela gente pela sua estoicidade e espírito de sacrifício e capacidade de transformar a adversidade em terreno de sementeira.

Eu lamento este desastre e receio que as réplicas à tragédia sejam muito maiores que apenas mais tremores e que se calhar os cenários pós-apocalípticos de Akira e tantas outras histórias que li na minha juventude, podem não ser assim tão ficção como imaginava mas não deixo de comparar o que ocorreu no Japão com o que tem vindo a ocorrer em Portugal. Se num caso temos um tremor repentino que origina uma onda gigante que se abate e varre um País deixando no seu caminho um rasto de destruição, no outro temos um solavanco constante que dura há décadas e que lentamente nos tem vindo a inundar e sufocar e a afogar, no final a diferença no comparar das desgraças não deverá ser assim tão grande, é tudo uma questão de timing.

A catástrofe do Japão tem um nome, a nossa tem muitos e quase todos impunes e auto-impolutos, se num lado só há a culpa da natureza no outro só há a natureza da culpa. Depois, somos ocidentais e pouco estóicos e pobres de espírito de sacrifício e já com pouca vontade de ainda levantar a cabeça mas ainda assim barafustamos e saímos à rua uma vez de vez em quando e regressamos a casa depois para poder dizer que também lá estivemos e tentamos encontrarmo-nos nas fotos e nas imagens dos jornais com a sensação do dever cumprido e voltamos à nossa vidinha porque mal ou bem lá se vai flutuando até sermos enterrados de vez na merda.

Por muito que eu quisesse olvidar a efeméride, sou picuinhas e pequenino no pensar e não consigo deixar passar a oportunidade de me oferecer para ministrar lições de golfe a quem queira usufruir da bondade do governo , sobretudo se forem lindas e esbeltas donzelas fraquinhas no Swing.

Black Company – Não sabe nadar

1 comentário:

Storyteller disse...

Fizeste-me rir com várias tiradas que tens aqui. Contudo, e como sei que és um mocito (olhó elogio) também dado a conversas sérias, digo-te que a situação no Japão tem-me preocupado. Principalmente o que está a acontecer, neste preciso momento, nas centrais nucleares.
Mocinhas fracas no swing deve haver bastantes. Umas porque praticam pouco, outras porque a sua fé é outra, outras porque pura e simplesmente são agnósticas.
E com esta me vou!
***
P.S. - Hoje entrevistei um astronauta. Daqueles a sério!