Segundo Heisenberg e em linguagem de leigos, as leis da física impedem-nos de medir com precisão o estado de uma partícula, porque o simples acto da medida interfere e altera com esse mesmo estado.
Portando este principio, pode-se assumir que a incerteza é um dos factos incontornáveis para o funcionamento da vida. A certeza da incerteza limita-nos na ambição do saber e precisar o estado quântico da nossa importância e influencia naqueles com quem interagimos. Medir o efeito de uma lágrima, de um afecto ou acto meigo é tão impossível como quantificar o resultado de uma raiva, do grito dado num parque pejado de aves amansadas pela necessidade da fome e do ignorar a quem apenas nos estende a mão a pedir ajuda.
A humanidade e as partículas simples que a compõem, têm assim o refugio da ignorância como desculpa comportamental, somos apenas bichos civilizados, condicionados por leis que nos ultrapassam, limitados no calculo da consequência e assim libertos da responsabilidade do fazer.
Tivemos pois, que inventar códigos de moral, leis de funcionamento em grupo, éticas e deontologias, como forma de nos auto limitar, procurar na segurança da regra a alternativa ao principio da incerteza de um ínfimo sorriso.
The The-Uncertain Smile
Pequenino sou no talento, insignificante na capacidade expressão, humildemente cito José Régio e o seu Cântigo Negro e de cabeça baixa me fico por aqui.
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Maria Bethânia-Cântigo Negro de José Régio
Portando este principio, pode-se assumir que a incerteza é um dos factos incontornáveis para o funcionamento da vida. A certeza da incerteza limita-nos na ambição do saber e precisar o estado quântico da nossa importância e influencia naqueles com quem interagimos. Medir o efeito de uma lágrima, de um afecto ou acto meigo é tão impossível como quantificar o resultado de uma raiva, do grito dado num parque pejado de aves amansadas pela necessidade da fome e do ignorar a quem apenas nos estende a mão a pedir ajuda.
A humanidade e as partículas simples que a compõem, têm assim o refugio da ignorância como desculpa comportamental, somos apenas bichos civilizados, condicionados por leis que nos ultrapassam, limitados no calculo da consequência e assim libertos da responsabilidade do fazer.
Tivemos pois, que inventar códigos de moral, leis de funcionamento em grupo, éticas e deontologias, como forma de nos auto limitar, procurar na segurança da regra a alternativa ao principio da incerteza de um ínfimo sorriso.
The The-Uncertain Smile
Pequenino sou no talento, insignificante na capacidade expressão, humildemente cito José Régio e o seu Cântigo Negro e de cabeça baixa me fico por aqui.
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Maria Bethânia-Cântigo Negro de José Régio