segunda-feira, 8 de novembro de 2010

:D


Não deixa de ser hilariante assistir a alguém que está enfiado na merda até aos cabelos pôr-se de boca aberta a tentar cantar a Marselhesa…


Django Reinhardt & Le Quintette du Hot Club de France with Stéphane Grappelli - Echoes of France (La Marseillaise)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Diário de um louco impoluto – Dia 25


Sinto que os meus dias se transformam com demasiada facilidade em semanas e depois em meses e ainda em anos. Passo demasiado tempo a ver o tempo passar e tenho falta desse tempo que me passa. Por muito que me esforce não consigo fazer parar o relógio, parar a contagem dos números que se sucedem, 1, 2 , 3, 60 e mais 1 e mais 2 e mais e mais. Não me sinto velho por ver o tempo passar mas sinto-me com menos tempo, apenas menos tempo para fazer tudo o que queria ainda fazer.

Tenho inveja daqueles que conseguem transformar o tempo em fatias de oportunidade para fazer o que decidem fazer, tenho inveja dos que não dão tempo à preguiça e ao ócio e à doçura de deixar a água escorrer por entre os dedos enquanto miram as rugas da cara no espelho. Tenho inveja daqueles que organizam a vida em momentos de fazer isto e aquilo e que não cedem à tentação de não fazer ou de fazer outra coisa qualquer. Tenho inveja dos que já fizeram e ainda tem tempo para fazer o que ainda não fiz e que já penso não ter tempo para fazer.

Amanheço com certezas de vontade e adormeço com vontade de certezas e no entretanto vou-me indo sem me ir ainda com a desculpa de que ainda há-de haver tempo para tudo e o tempo matreiro deixa-se escorregar devagarinho como uma sombra que desliza num lago pardacento ou como um fio de areia tão ínfimo que me parece apenas o dourado de um cabelo suspenso numa ampola. Já não espero que o tempo me perdoe, tenho consciência e dor da falta que ele me faz e da forma como o maltratei com a minha manha de não querer, de não me apetecer, de não saber como lhe pegar.

Eu às vezes sinto que a minha preguiça é mórbida, como um vicio que me enrola num torpor e é só mais um bocadinho que já lá vou e é só mais um bocadinho que já faço e é só mais um bocadinho que já começo e é só mais um bocadinho que já acabo e depois de repente já não há tempo para ir ou para fazer ou para começar ou para acabar, não há tempo paciência, mas soube tão bem não ir e não fazer e não ter que acabar o que não comecei e amanhã haverá outra vez tempo.

Que não me falte o tempo de não ter tempo para ter tempo de voltar a ter tempo outra vez e porque o tempo me estica e me encolhe nos maus e bons momentos e parece-me enorme enquanto me custa e ínfimo enquanto me agrada e a mim agrada-me a preguiça e custa-me a obrigação e sempre amanheço com certezas e adormeço com vontades e no entretanto escoou-se mais um fio e esgueirou-se mais uma sombra e o dourado vai ficando mais grisalho e o lago mais escuro porque o tempo teima em me querer cobrar a sua taxa que afinal pago em tempo com tempo.

Gostava que hoje fosse ainda ontem. Gostava que este frio Outonal fosse ainda uma brisa fresca de Verão. Gostava de voltar a ter aquele tempo que perdi por aqui e por ali e que perdi sem saber porquê, apenas porque sim. O tempo não espera por nós ou aprendemos a caminhar ao seu lado ou a correr atrás dele. Falta-me sobretudo tempo para transformar em palavras os meus dias que se vão passando em semanas e depois em meses e ainda em anos e mais que esse tempo que passou faltam-me as palavras que não ficaram, aquelas que deixei por escrever e as outras que perdi na memória da erosão do amanhecer. Não lamento o tempo que não tive, lamento o tempo que não fui capaz de ter e peço perdão às palavras que deixei perder, peço perdão por não lhes ter dado tempo, faltam palavras às minhas rugas, faltam palavras às minhas dores, faltam palavras aos meus júbilos, faltam palavras ao meu tempo.


Edith Piaf - Non, Je ne Regrette Rien

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Aos poucos…


…As peças vão-se encaixando e é engraçado que muitas vezes quando se colam cacos nos sobram coisas que não nos fazem falta nenhuma…

Não que me tire qualquer prazer disso mas já dizia o La Fontaine rescrevendo Esopo que às vezes quem muito canta no Verão chora no Outono…

Hoje ensaio coisas por aqui »».««


Banda do Casaco - Natação Obrigatória

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [11] – O ter que ser Português


Não sou especialista nem em economia nem politica, aliás, bem vistas as coisas tenho uma daquelas profissões chatas em que não somos especialistas em coisa nenhuma e quando parece que sabemos um bocadinho mais de qualquer coisa a coisa torna-se irrelevante. Embora não sendo especialista, sempre vou ouvindo aqui e ali que isto está muito mal e que somos um povo à beira do abismo a quem os governantes e orientadores diz que a única saída é apertar o cinto e seguir em frente. Sei que a piada é velha mas não encontro melhor alegoria que esta e até percebo que estando à beira do abismo tudo se resolva com um salto de fé desde que a altura me garanta que não haverá contas de hospital para pagar e que quem vier atrás pelo menos consiga arranjar um buraco para me enterrar porque eu não gostaria de ficar por aí a cheirar mal.

Na realidade não percebo nada de politica nem de economia nem de sociologia o que a bem dizer me habilita como bom Português a poder opinar sobre qualquer assunto em conversas de corredor, vizinhanças de máquinas de café e balneários sem ter receios de dizer asneiras. Por isso na minha humilde opinião sempre vos digo que acho que o Português se deixa cozer bem em lume brando e que não será por acaso que somos os inventores do banho Maria que como toda a gente sabe é a melhor forma de aquecer o arroz sem o esturricar ou o deixar agarrar à panela. É por isso que os nossos pastores nos conseguem tão facilmente levar a qualquer lado e a malta embora resmungando e com alguns arrebites esporádicos lá vai arrastando os pés e agora espanta-se por já não haver mais caminho em frente.

Outra das nossas características tão invejada pelos povos daqueles países mais sérios da Europa central é a nossa capacidade de sermos parvos com um enorme sentido de humor e ontem depois de ver os mineiros Chilenos saírem do buraco não faltou comediante nacional que não alvitrasse que o método se calhar com jeitinho podia ser ampliável de 33 indivíduos a 10 milhões de artolas e que qualquer dos mineiros daria um bom consultor de ministro em Portugal. Enfim dá para sorrir e a malta gosta mesmo é de rir e não sei se já repararam que é fácil encontrar na cara dos nossos idosos aquelas rugas que se abrem do nariz aos lábios, sinais do tempo e de tempos de muita galhofa.

Depois há aquela lei dos “F’s” que diz que ao Português para estar entretido e não chatear muito basta ter com fartura coisas começadas por “F” e claro que aqui virão os tais brincalhões danados para a brincadeira falar de Foder ou ser Fodido, mas não, eu estava mesmo era a pensar em Futebóis e Fátima e Folhetins que a moda do Fado já passou e dirão os teóricos conspirativos que não é por acaso que agora com a grande crise instalada e o anuncio do orçamento para 2011 se reinventou o “grande irmão” ou que a selecção se deixou atrasar para depois se contratar um salvador com tranquilidade e risco ao meio ou que ontem foi dia 13 aqui e na Cova da Iria…


Talking Heads - Once In A Lifetime

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A graça da Garça

Hoje circula-se por aqui »».««


Tears for Fears - Mad World

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Diário de um louco impoluto – Dia 24


Sinto que há demasiado tempo não me transcrevo neste diário. Sinto falta da catarse de deixar as palavras reflectirem o meu sentir, deixar os verbos desmascararem a minha raiva, deixar as virgulas assinalarem as minhas dúvidas, deixar-me escorrer por entre o que escrevo.

Sinto que há demasiado tempo ando a adiar o amanhã e a continuar a lamentar o ontem enquanto hoje ainda me perco e se calhar por isso ou por outra razão qualquer estou a caminhar por entre árvores espaçadas e terra batida. O dia está solarengo e a pedir uma sombra e procuro-a sobre um banco de madeira maltratada pelos anos e por muitos que o usaram para muitas coisas. Os veios estão abertos como gretas e cruzados aqui e ali por riscos incertos de pontas arrastadas de navalhas e bicos de pregos, reconheço esboços de corações atravessados por setas e promessas de amor eterno. Gosto do árido das tábuas e verifico que a ferrugem cristalizou nas ferragens e não me suja as mãos.

Sinto que há demasiado tempo não me preocupo com o que sinto ou que sinto que devia de me preocupar com o que não sinto e acabo por encolher os ombros e deixar acabar mais um dia com a certeza que amanhã virá outro e que há sempre tempo para tudo desde que o queiramos verdadeiramente mas eu sei que o tempo tem os dias contados e bem contados. Admiro o banco onde estou sentado e a capacidade que teve de envelhecer desempenhando o seu papel. Admiro ou talvez inveje o que já testemunhou e a sorte de ser um objecto inerte livre de sentir colocado num local onde o vento sopra e a chuva cai e o Sol brilha ou se esconde atrás das nuvens e onde se cheira a relva e as folhas caem e de ser útil sem questionar a razão de o ser ou querer ainda ser mais que apenas útil.

Sinto que há demasiado tempo ainda para me sentar neste banco mas que é demasiadamente pouco para o que quero que me falte e entre o que me falta e o tempo que me resta há uma disputa e eu estou sentado neste banco a assistir sem querer tomar partido. Vejo lá em baixo uma velha dar de comer aos pombos. Penso que já uma vez escrevi que não gosto de pombos. Não reconheço utilidade aos pombos e acho que a única coisa que os pombos fazem é comer e cagar e entre as duas foder e reproduzir-se como ratos. Costumo dizer que os pombos são como ratos com asas e se acreditasse em Deus nas minhas preces perguntaria: Diz-me Deus porque criaste os pombos? Acho que se acreditasse em Deus e lhe fizesse esta pergunta iria ter uma resposta, posso ter dúvidas na existência de Deus mas não tenho nenhuma dúvida que se perguntasse para que é que servem a merda dos pombos ele me diria e de forma a que eu iria perceber e entender. Se calhar aquela velha que está a dar de comer aos pombos, acredita em Deus e um dia perguntou-lhe e agora que já sabe para que é que servem a merda dos pombos, passa todos os dias por aqui com pão que esfarela para os alimentar para que possam comer e cagar e entre as duas foder e ainda cumprir o desígnio de Deus.

Sinto que há demasiado tempo que estou aqui sentado neste banco a ver uma velha a cumprir os desígnios de Deus e pergunto-me se quando ela se dirigiu a Deus e lhe perguntou para que é que serviam os pombos se não estaria aqui sentada neste mesmo banco e se não estou a perder a oportunidade de também eu encontrar a minha resposta. Parece-me fácil acreditar, mais fácil que continuar a duvidar que não há razões para a existência dos pombos e que os problemas existencialistas dos homens se podem resolver percebendo que há sempre uma razão para além de comer, cagar e entretanto foder, basta acreditar.


Jethro Tull - Too Old To Rocknroll Too Young To Die

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [10] – O poder de ter poder


Parece que já não vale muito a pena falar das vuvuzelas por isso vou continuar a falar no Facebook e não me venham dizer que fiquei viciado na coisa porque é mentira, só lá vou sempre que posso e os rumores de que me levanto a meio da noite para fumar um cigarro e ver se tenho comentários são calunias, eu só não deixo de fumar porque não quero, tiro prazer da coisa e tenho uma certeza inabalável de que não irei morrer disso. Tenho que confessar que antes de ter entrado neste admirável mundo de amizades, convívio e galhofa e quiçá fruto da minha ingenuidade e juventude, pensava que o Facebook não era mais que uma espécie de clube tuperware para troca de mimos sobre futilidades e claro havia apenas o tal famoso farmville que entretinha a malta.

Quando me comecei a amigalhar, palavra que ao contrário de mudasti merece entrar no léxico nacional, primeiro porque faz sentido e é fácil de conjugar, eu amigalho-me, tu amigalhas-te, ele amigalha-se, nós amigalhamo-nos, vós amigalhai-vos, eles amigalham-se e por aí fora e segundo porque não faz publicidade a nenhuma beberragem açucarada de utilidade duvidosa, logo percebi que o Facebook era muito mais do que eu podia imaginar ou sonhar. De repente o meu espaço começou a ser invadido por ofertas de pedidos ou pedidos de ofertas de coisas fantásticas, assombrosas, mirabolantes plenas de graça imaginação e fantasia. Havia Ilhas e fronteiras e gangsters e máfias e parques de diversão e bolinhas de sabão e abraços e beijinhos e flores e questionários de tudo e algo mais e o primeiro conselho que me deram quando me olharam no olhos e me viram em pânico a tremer a olhar para aquilo tudo foi: Elimina.

E aprendi aos poucos a eliminar. Sempre que me aparecia algo estranho, pimbas eliminava e já não me aparecia mais. Esta capacidade que o Facebook nos oferece de eliminar o que nos desagrada é o que mais me agrada no sistema porque não se fica apenas pelas jigajogas e traquitanas, mas pode ser estendido a pessoas. Sim perceberam bem o Facebook permite ao comum dos mortais eliminar pessoas e tanto quanto sei continuando a passar pela casa partida sem ter que ir parar à prisão.

Por isso meus amigos façam como eu, se sabem daquela pessoa chata cuja infelicidade vos bateu à porta no dia em que a conheceram e que teima em vos lembrar que ainda mexe e que mantém intacto o talento de debitar disparates mais rapidamente que a vossa vontade de verem se têm comentários novos ou que insiste em divulgar testes que atestam a sua imbecilidade ou que dizem que ela é o supra sumo da batata ou que explicam que grande amante ou beijoqueira se tornou quando vocês até sabem que o xarroco de olhos esbugalhados esquecido há dias na banca da peixeira e que a ASAE se o apanha leva para parte incerta, beija infinitamente melhor, eliminem.

Eliminar no Facebook é gratuito, a pessoa eliminada desaparece, nunca mais a vêm e ainda tem a vantagem de que ela também não vos consegue ver. Do ponto de vista virtual é quase tão bom como voltar atrás no tempo e nunca ter saído de casa naquele dia fatídico…


Durutti Column-The missing boy

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Palavras malditas

Hoje ando por aqui »».««


The Killers - Human

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Recado


O pior Sentimento que alguém pode inspirar nos outros com as atitudes que toma é pena.

Cada vez há mais pessoas a ter pena de ti. A seguir virá o desprezo!


Bee Gees - Tragedy

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [9] – O ser agricultor


Embora continue a odiar as vuvuzelas, de repente deixei de as ouvir, ainda não percebi porquê e se calhar esta sensação que tenho tido ultimamente e que não consigo explicar, são saudades ou então não devia ter comido aquelas coisas estranhas no restaurante Japonês. Hoje retorno ao Facebook, não como neófito mas quase veterano na coisa. Os amigos já não aparecem como cogumelos em casca de árvore húmida mas ainda vão aparecendo e os que não via há uma carrada de anos, estão quase todos mais velhos e menos gordos do que eu os imaginaria, o que me faz mirar-me compulsivamente de perfil no espelho grande lá de casa. Continuo a não conseguir encontrar o Zé Carlos ou o António ou o Samuel ou o Victor que nem me lembro se não era só Vítor, porque o raio da coisa não me permite pôr como opção de busca que procuro a malta lá da escola e os outros com quem jogava ao berlinde e isso deixa-me chateado e com vontade de enviar uma reclamação a alguém e se alguém sabe a quem por favor diga.

Com certeza que estão à espera que fale do Farmville e eu não vos vou desapontar, vou mesmo falar no farmville. Para começar escusam de me enviar porcos e vacas malhadas e pedidos do que for porque bloqueei a coisa e não pertenço ao grupo dos que não jogam farmville porque sou do grupo dos que não alinham em grupos, aliás estão todos convidados para se juntarem a este grupo, é à borla e não se paga nada e todas as sextas-feiras são vésperas de Sábado, para mais informações podem ir por aqui e se o link não funcionar, paciência procurem naquela coisa que permite procurar coisas que de certeza que encontram.

http://www.facebook.com/group.php?gid=127437280627723

Acho o fenómeno do farmville algo fascinante porque promove comportamentos que são totalmente contrários aos que temos na vida real como por exemplo o conceito da boa vizinhança. Quantos de vós que habitam não importa se numa colmeia de apartamentos ou na quinta fileira a contar da esquerda, logo a seguir à rotunda da bomba de gasolina numa vivenda geminada, conhecem ou querem mesmo conhecer os vossos vizinhos todos? Mais ainda trocar favores com eles? Tu dás-me uma saca de batatas e eu raspo-te o portão, dou betume e primário cinzento e pinto depois de verde ou então tu dás-me três galinhas, um pato e um ovo de choco e eu dou-te um unicórnio já habituado a coabitar com as zebras. É mesmo fantástico que pessoas que nunca imaginariam enterrar as unhas no esterco tomem diligencias na horta e que façam colheitas e as armazenem e negoceiem os frutos do seu trabalho. Mais ainda é o conceito associado à organização, porque nas quintas que tenho visto está tudo muito bem alinhadinho e amanhado. Malta que nem a cama faz e que é incapaz de saber onde raios se arruma o tacho ou onde está o piaçaba que já procurou pela casa toda e nem se lembra de ver atrás da sanita, ali é um primor burocrático.

Por outro lado acho mal que não se permita aos jogadores desenharem a sua própria flora ou fauna, nisso eu era capaz de alinhar e nem pensem que me punha a criar substancias ilícitas derivadas do cannabis ou a plantar papoilas roxas, nada disso, o que eu gostava era mesmo de me meter nos transgénicos à força toda e misturar repolhos com lentilhas e marmelos com uma daquelas frutas esquisitas que às vezes aparecem nos hipermercados e que não sabemos o que é mas compramos para experimentar e depois aquilo sabe muito mal, porque na realidade acabamos por comer a parte que era para deitar no lixo e deitamos no lixo a parte que era para comer. Também gostava de criar bichos novos, pôr cá para fora a minha faceta de Deus porque continuo a achar que até tinha jeito para isso…


The Doors – Waiting for the Sun.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Lua plena


Esta Lua que se me enche não me faz crescer pêlo ou presa ou uivo ou sede rubra. Esta Lua que se me enche desperta-me a vontade do esquecer e da nudez e do suor e da paixão e de ser e de ti. Esta Lua que se me enche preenche-me.

Quero a minha Lua cheia a dançar num reflexo de mar sereno neste calor que estende o dia na noite. Quero o cálido pálido dos seus raios a brilhar-te nos olhos e no cabelo e na gota de suor que te escorre dos seios. Quero o seu baptismo num beijo e a sua maldição num orgasmo. Quero a minha Lua cheia bem cheia do teu cheiro em contraste com o moreno da cor da pele que se estende suave dos teus ombros. Quero cobrir-te do seu brilho com a minha sombra.

Esta Lua que se me enche saúdo-a com silencio na partilha de um abraço e com canção na partilha de um espaço. Entre ritmos na contraluz e travo de ébrio ligeiro rodopiamos na simula de um tango e desejos de outra latitude. Esta Lua que se me enche e preenche e me fascina e te aproxima e nos renova na promessa de um novo ciclo plenos de Lua.


Waterboys - The Whole of the Moon

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Male partum, male disperit


Que aqueles que por aqui têm passado me perdoem a ausência. Tempos complicados de mudança, tempos quentes de bonança, tempos tristes de paciência. Estou a dar tempo ao tempo para que o tempo certo chegue.
Quero voltar de forma regular com vontade e criatividade e já não falta agora muito. Preciso de escrita e de justiça, a primeira virá já nas próximas semanas, a segunda em Setembro com o final do Verão, ambas me libertarão de fardos.

Por enquanto vou estando com os amigos que se juntaram a mim no Facebook e com os amigos do costume por aqui: >>-<<


Prefab Sprout - I Remember That

terça-feira, 29 de junho de 2010

Generation Gap?


Muse & The Edge – Where the streets have no name

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [8] – O admirável mundo novo edição de coleccionador


Ainda odeio as vuvuzelas! E depois desta surpreendente declaração de sentimento gostaria de anunciar que no final fui fraco e acabei por ceder às insistentes campanhas de arregimentação que vários dos ilustres visitantes deste blog me moveram e fiz-me parte daquela coisa que dá pelo nome de Facebook.

Olho-me agora de forma diferente ao espelho, mas se calhar é porque com esta idade ainda consigo ter efervescências borbulhosas no nariz o que não deixando de ser notável se nota porque fica tudo vermelho com uma cabecinha esbranquiçada daquelas que dá vontade de espremer. Por outro lado e regressando ao Facebook com ajuda e até um bocado empurrado criei a conta no meu nome impróprio que muitos sabem uso legitimamente com propriedade e desatei-me a fazer amigos e ao fim de dois dias já tinha mais de trinta o que me deixou contente e orgulhoso porque descobri que além de conseguir descobrir trinta otários que me querem como amigo ainda por cima me deixam coscuvilhar pormenores da sua vida intima.

Pois tenho que dar o braço a torcer só um bocadinho senão dói muito que aquilo até é giro e é um sitio onde há mulheres boas ou melhor dizendo que eu gosto de parecer espiritual, boas mulheres. Por outro lado fiquei um bocado decepcionado porque toda a gente me dizia que ia conseguir rever a malta toda que tinha andado comigo na creche e na pré-primária e fartar-me de gozar porque está tudo velho e gordo e afinal não encontro ninguém. Das duas uma ou o pessoal do meu tempo tem todo mais juízo que eu e dedica-se a coisas mais interessantes como por exemplo outra coisa qualquer ou então um dos 6723 indígenas que me aparecem na lista é mesmo o Zé Carlos e eu não lhe consigo reconhecer o nariz.

Agora o que me parece mesmo deprimente é os grupos… Muito gostamos nós de molhadas e quanto maiores melhores. Mas mau mesmo são os grupos revivalistas que querem fazer recordar quão jovens e tótós éramos todos os que nos juntávamos no tal café que tinha o tal empregado que era meio coxo e que se calhar até já morreu ou então é bem velhote e depois aparece sempre o iluminado que diz que não que ainda na semana passada o viu no supermercado a comprar um pacote de flocos e um queijo fresco e que até estava fino. Depois claro vêem as fotos carcomidas ou com aquelas cores estranhas dos setentas ou dos oitentas e vai de comentar com os olhó e olhá e às vezes até se deixam escapar aquelas coisas que até nem dão jeito que toda a gente fique agora a saber depois de tantos anos a tentar esquecer.

Mas pronto estou no facebook mas continuo a odiar as Vuvuzelas.

Nota do autor: Aquilo lá no Facebook funciona um pouco como um apêndice deste blog e um apêndice para quem não sabe e eu descobri muito recentemente por más razões é algo que ou não serve para nada ou ainda não se sabe para o que é que serve. A diferença é que lá é assim a modos como um lugarzinho com direito de admissão onde o bar está sempre aberto e todos sabem o nosso nome e é verdade que sendo um lugar comum não deixa de ser verdade. Assim quem se quiser amigalhar por lá pode sempre aparecer mas desde já aviso que só serão aceites pessoas reais ou que consigam provar que o são e neste caso a única excepção é aquela menina de Braga que nunca ninguém viu mas que se supõe que existe e sim tu é de ti que estou a falar...


Kid Creole & The Coconuts - I'm A Wonderful Thing Baby

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [7] – O admirável mundo novo


Odeio as vuvuzelas! De repente alguém me disse que o mundo podia ser visto a 3 dimensões e que nem precisava de sair da sala ou da cozinha ou mesmo da casa de banho para o ver assim de forma tão profunda. Odeio mesmo as vuvuzelas! Como é que de repente sem que tivéssemos dado por isso o mundo ficou a 3 dimensões é um mistério com algum relevo e passado o trocadilho forçado parece que a explicação é antiga mas só agora depois do tal Avatar se percebeu que nos fazia mesmo falta dar outra dimensão à coisa. Mas é que odeio mesmo muito as vuvuzelas! Parece no entanto que não é apenas com os nossos bonitos olhos que podemos ver o mundo a 3 dimensões, serão necessários uns óculos polarizados que não se devem confundir com polaróides que são aquelas máquinas que tiram fotografias instantâneas sem serem telemóveis nem com polinizações que só serve para me fazer espirrar e besuntar o monitor com nhanha viscosa. Já vos disse que odeio as vuvuzelas? Para o mundo poder ser visto a 3 dimensões fará ainda falta uma televisão mais especial que aquela que tanto trabalho deu a convencer a dita que preferia ir de férias para Torremolinhos a comprar com a promessa que aquilo não ia parecer enorme na sala e que até seria mal os vizinhos já todos terem e agente não. Odeio as vuvuzelas tanto mas tanto que quando ouço uma até me arrepiam os pintelinhos da nuca. Aqui o escriba que para quem não sabe até ganha a vida com estas coisas tecnológicas e que devia estar caladinho e aplaudir que o mundo se queira ver agora a 3 dimensões, não consegue deixar de achar piada a imaginar a malta toda sentada na sala com ar de imbecil de óculos à José Cid escarrapachados no nariz a olhar para dentro de um aquário. Penso que já vos terei dito que odeio as vuvozelas! Sim, porque o efeito de uma televisão a 3 dimensões é muito parecido com o de olhar para dentro de um aquário, embora com a vantagem de que não é necessário dar de comer aos peixes nem limpar o verdete do vidro.

Agora gostaria de aproveitar a oportunidade e comunicar ao mundo que odeio as vuvuzelas e que sinto uma vontade enorme de as enfiar pelo cu acima a quem se atrever a tocar uma à minha frente e posso garantir que isso terá um efeito tridimensional que dispensará os óculos ou outro investimento mais avultado e aqui fica o aviso que quem avisa amigo é.

No vídeo abaixo, não foi maltratado nenhum animal e acima de tudo nenhuma vuvuzela foi tocada.

Caetano Veloso - Luna Rossa

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [6] – O ser estranho que é a mulher


Aqui há dias surgiu-me uma epifania e este não é o nome esquisito de nenhuma miúda gira que me pediu amizade no facebook até porque eu ainda não tenho conta naquilo embora esteja sinceramente a pensar ter porque ao que parece a coisa tem interesse para lá de plantar batatas e assumi de uma vez por todas que não entendo, nunca irei entender e nem sei se quero mesmo entender as mulheres.

Pensava eu na minha ingenuidade de homem pouco vivido que o amor que uma mulher sente por um homem poderia morrer como morrem todos os bichos subitamente ou por doença prolongada ou todas as plantas por falta ou excesso de rega, mas não, o amor que uma mulher sente por um homem é eterno e quando supostamente ela diz a todas as amigas ou a quem tiver a paciência de a ouvir que acabou tudo, na realidade o que acontece é que o amor se transforma numa outra forma de amar, que a mulher confunde por vezes com ódio mas que continua a ser amor daquele que a leva a não pensar noutra coisa do que no ser amado ou a querer estar no mesmo espaço do ser amado e a não falar noutra coisa com as amigas do que do ser amado independentemente de falar mal e porcamente, não deixa de falar.

Um homem quando deixa de amar uma mulher ou vira desgraçadinho, alcoólico, toxicodependente ou cliente de psicanalista ou parte para outra e tenta compensar a falta de amar com excesso de sexo mas nunca, de forma alguma quer voltar a estar no mesmo espaço físico que a ex amada ou a contacta por tudo e por nada ou se penteia e veste umas calças novas e sapatos engraxados na esperança de a encontrar na paragem do autocarro. A mulher não, se amou ganhou o direito de ser chata de ser inoportuna de ser melga de ser doentia na obsessão de continuar a viver na orbita do ser amado.

Aquela história que conta que todas as mulher tem a capacidade de transformar um qualquer sapo num príncipe é uma das maiores fraudes que impingem às criancinhas logo desde pequeninas, porque a verdade diz exactamente o contrário, toda a mulher consegue com a maior das facilidades transformar o seu príncipe encantando que tanto amou num sapo desprezível e baboso e no entanto, embora o consiga trocar com supostas vantagens por um pepino cor de beterraba com a mais valia de ainda por cima não ressonar, nunca o deixa de amar nem que seja por pena ou por ódio.


Regina Spektor - Fidelity

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ámen

Porque por aqui se morre de tédio, há que matar o tempo no outro lado…

»».««


Siouxsie and the Banshees - Melt
(Para os distraidos o guitarrista é o Robert Smith dos Cure)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Não me apetece…


…Voltar a correr atrás de quimeras e outros bichos com asas e penas coloridas e sonhos suaves que se podem comer sem risco de engordar. Não me apetece escrever com data marcada palavras bonitas ou nada que se pareça com dever. Não me apetece ter agora nada mais do que vontade de mim. Não me apetece sentir qualquer pudor em ser egoísta e esquecer por alguns instantes que a minha importância se relativiza pela importância de quem me é mais importante. Não me apetece saber que não sou Sol, fonte e suficiente para todos os que quero e que ainda sou por obrigação algo que não quero ser para outros que não quero que façam já ou ainda parte de mim.

Não me apetece seguir regras, seguir horários, seguir rumos, seguir costumes, seguir outros filhos, seguir o vento, seguir a fome. Não me apetece dançar por fora do ritmo que sinto no corpo que ainda sabe escutar. Não me apetece ter que justificar os meus apetites ou a minha falta deles. Não me apetece estar onde estou e não estar noutro lado. Não me apetece saber que me falta coragem ou sobra consciência de largar tudo e ficar nu num lugar onde nada mais me falta que o que me sacia.

Não me apetece dores nem sedes. Não me apetece acordar ou adormecer nalgumas manhãs. Não me apetece o escuro sem a tua luz. Não me apetece rasgar o passado nem antever o futuro. Apenas me apetece não me apetecer.


James-Sound

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Citações que ainda um dia serão famosas [2]


Os problemas que sei resolver com o dinheiro que consigo ter na carteira não são mais que insignificantes.
(LBJ – Maecenas compelido de causas menores e pactos que deveriam estabilizar )


AUREA - Busy (for me)
(PS. Para quem como eu andava distraído esta menina é Portuguesa.)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Faz favor de passar…

…e ir ler lá do outro lado, mas antes gostava de vos dizer que adoro o nome desta banda e que vale a pena ouvir a música porque é daquelas que nos fazem assobiar e sorrir só porque sim…

»».««


Club Des Belugas Orquestra - It's Beautiful Day

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Keep it Simple…


Não foram precisas carradas de fogo de artifício nem toneladas de fumo nem muitas luzes a piscar sem sentido. Houve a honestidade, houve o suor, houve a entrega de um grande performer muito bem acompanhado para me dar o melhor concerto a que já assisti, quem foi ao engano saiu rendido, sempre disse que este senhor era muito mais do que queria parecer ser e não tenho dúvidas que o seu próximo concerto em Lisboa irá encher um estádio amarelo esverdeado…


MIKA – Stuck in the middle


MIKA – Good gone girl

domingo, 9 de maio de 2010

Citações que ainda um dia serão famosas [1]

Comparar uma Mulher a uma flor é como reduzir o jardim a um canteiro.
(LBJ – Observador de pássaros)


Amy Winehouse - Will You Still Love Me Tomorrow

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Diário de um louco impoluto – Dia 23


Queria poder contar com pontos de retorno. Queria parar o mundo neste instante e guardar a vida num lugar seguro, uma caixa, uma carta ou um frasco que pudesse rolhar de vidro opaco longe dos olhos e de todos para que a incerteza fosse sempre um caminho seguro. Quero o poder de voltar aqui e agora apenas estalando os dedos, tlec e tenho uma nova oportunidade de me falhar. Não me importa emendar o tempo, hora a hora ou dia a dia como o faço com as palavras que me desagradam e que apago e reescrevo com outras letras ou sons ou significados, não me importa trilhar todo o caminho por muita pedra que me sangre os pés, chegar ao fim e ver o final mas gostaria de ter a possibilidade de escolha de um novo recomeço a partir de um ponto ou instante como este em que o que está mal até não está mal de todo.

Sou fraco porque escolho não escolher, é mais fácil deixar seguir o rio em direcção a onde quer que vá chegar, alguns rios conseguem até chegar ao mar e chegar ao mar é fazer parte de algo imenso ou apenas diluir ilusões, a água deixa de ser doce quando chega ao mar, onde ficará a fronteira entre a água do rio que é doce e a água do mar que é salgada? Sou como a água que flui pelo caminho mais fácil, sou como a água que flui sem perceber que deixa de ser doce e se salina e amarga, sou como a água por vezes transparente outras opaco e estou a deixar-me fluir somente porque me atrai o mar.

A sua mão está pousada na minha perna, oculta pela mesa, acaricia o interior das minhas coxas num movimento inequívoco de sedução. A mulher do cabelo amarelo que já não é amarelo mas feito de muitos dourados e castanhos, sorri-me com os olhos e diz-me que sente o desejo de voltar a ver o meu corpo nu, quer olhar-me com as pontas dos dedos e com as pontas dos seios e com a humidade dos lábios, quer sentir os contornos escondidos da minha pele com o seu roçar impudico. Tenho vontade de dizer alguma coisa que não sei se é um concordar ou um discordar mas sou afogado de vontade pela vontade de um beijo que me cola a boca e deixo-me fluir pelo desejo.

Sinto-me mal por me sentir bem e quero fugir mas fico preso por uma mão que agora me segura firme uma erecção que não tenho forma de controlar, há um convite implícito nos seus olhos castanhos que brilham como o mar num dia de verão e eu sei que a vou seguir para onde for que for o caminho que me quiser levar e que me vou deitar a seu lado à espera que me cubra com o seu corpo que adivinho suave. Vou-me deitar no leito que me leva por um caminho que escolho pela minha fraqueza de não conseguir escolher, estou preso pela atracção do mar que antevejo nos olhos de uma mulher que sinto real pela mão que me prende mas que me atrai por um sentimento irreal de perigo, tenho medo da incerteza mas é ela que me fascina e puxa e que faz não querer mais do que deixar fluir.

Acabo o dia na noite suado e sem saber se o que sinto agora é arrependimento ou medo e se pudesse ter o botão que me levasse a um ponto de retorno, se o apertaria agora ou se ainda me deixaria ficar a fluir neste desejo que começou por não ser o meu mas que me foi cercando num caminho fácil e me contagiou porque sou fraco e estendo a mão e sinto-lhe a ponta de um mamilo, hirto e compreendo que não o conseguiria apertar…


James - Sit Down

domingo, 2 de maio de 2010

Happy Birthday part 2


De repente apercebi-me que este blog faz hoje 2 anos e vá de escrever à pressa e adiar a publicação do último texto para daqui a uns dias e pronto já cansado vamos lá fazer um balanço que é para estas coisas que servem os aniversários.

Ora em idade de blog não sei a que é correspondem 2 anos, assumindo que os blogs são como os cães o que até nem me parece mal comparado de todo, tendo em conta aquela coisa do fiel amigo e companheiro e as pulgas, então este blog está a entrar na adolescência ou seja está naquela fase em que se quer fazer muita coisa mas o tempo vai faltando e se acaba por se ir fazendo o que se pode e nalguns casos se aprende a gostar de cerveja e noutros a ficar agarrado a coisas piores.

Para quem por cá não anda há algum tempo convêm explicar que a mecânica deste blog é alimentada por vídeos emprestados dai e dacolá e de textos escritos por mim que na maior parte das vezes são ficções pouco imaginativas de coisas que me vão alem brando.

Se quiser sintetizar numa palavra o balanço deste ano que passou esta seria mudança. Aqueles que me conhecem para além do virtual e começam a ser alguns, sabem que quis mudar o que já não me fazia sentido e que a muitos pareci louco ao querer fazer tudo ao mesmo tempo, mas aqui estou para provar que a fortuna calha aos audazes e o que ainda me falta hei-de também rapidamente conquistar.

Relativamente a este novo ano bloguístico, este blog para recuperar o ritmo tem que introduzir algumas rubricas novas e assim o novo alinhamento para os próximos meses serão a continuidade do “Diário do louco impoluto” e da “fabulandia”, os “Privilégios do Disparate” além dos “(in)mundanismos” irão ter também uma série de rascunhos verbais sobre o livro de génesis mas para aqueles que estão já a acender as tochas tentarei que não seja nada de muito herético. Depois para dar o tal ritmo tenho que ter posts mais pequenos, porque escrever textos de algumas centenas de palavras não é assim tão fácil como eu pensava e por isso vão aparecer duas novas rubricas, que são as “Citações que ainda um dia serão famosas” e os “Títulos de livros e filmes improváveis” e claro os tão apreciados "inquisitórios", no fundo coisitas leves para ajudar a digerir.

Visto isto e o resto, resta-me agradecer a todos os que aqui passaram, sobretudo aqueles que se deram ao trabalho de se apagarem como meus seguidores e neste ano que passou foram uma boa meia dúzia e esperar que neste novo ano bloguístico continue a merecer o vosso amor ou o vosso ódio mas nunca a indiferença.

Beijos para as meninas e abraços para os meninos.
LBJ


B-52’s - Rock lobster

sábado, 17 de abril de 2010

Saturday Night News


Que não me estranhem a ausência. Novos desafios profissionais obrigam-me a ter que adquirir um novo ritmo de vida e por agora menos tempo para andar por estes mundos. Mas vou tentar voltar aos poucos, tenho muitas histórias para contar e ainda a grande história para escrever e não me vou esquecer dos vossos cantos, mesmo que não deixe nota, saibam que vou passando por lá.

Para quem se distraiu apaixonei-me pelo orvalho por aqui: »».««

Uma grande nuvem de cinza espalhou-se pela Europa e fechou muitas portas de saída e outras tantas de entrada, como tudo na vida o desalento de tantos é a bênção de poucos. Gosto por demais deste Libanês, fresco, descontraído, despretensioso e alegre e que tem o condão de me pôr bem disposto e a abanar a cabeça e a bater o pé, que me perdoem os puristas, faz-me lembrar, pela pose e pela expressão que dá ao corpo o meu saudoso Freddy Mercury. Não podia ir ao concerto, a data era-me impossível, mas eis que os deuses nórdicos decidiram cuspir fogo e tapar os céus e acabando por lhe fechar a porta de saída que o traria ao redondel de Lisboa e eu que sou atento a sinais do destino, já tratei de arranjar forma de lá estar em Maio… a dançar em boa companhia.


MIKA - Blame It On The Girls

domingo, 11 de abril de 2010

Fabulando [3]


O Horácio na sua juventude tinha sido um cão insatisfeito com a vida pacata que se levava pela terriola onde até as moscas eram enfadonhas, mesmo quando se punham umas sobre as outras em pilhas de duas ou três ou até quatro a fazer coisas divertidas ainda eram chatas. Um dia o Horácio acordou decidido, arrebitou-se todo e disse às pulgas que se ia pôr a andar dali para fora, correr mundo e conhecer coisas novas, aprender línguas e quem sabe pelo caminho papar umas cadelinhas e fazer fortuna. Muitas das pulgas quiseram saltar fora e outras nem por isso porque a carne era fraca mas o sangue abundante e lá embarcaram na aventura de serem embarcadiças de um cão embarcadiço num navio da marinha mercante que transportava para lá uma coisas e para cá outras e fazia muitas escalas.

Rapidamente o Horácio se adaptou aquela vida errante de ser um cão que flutuava entre portos distantes portas abertas ao mar de lugares exóticos onde haviam cheiros e cores e costumes diferentes de tudo o que a imaginação alguma vez podia imaginar e nalguns fez amigos e noutros inimigos mas em todos arranjou paixões nem sempre correspondidas mas sempre desejadas e pelas quais lutava com todas as suas forças, porque era um cão fogoso e diziam até jeitoso no seu tom dourado de corpo esguio e cauda robusta e felpuda. Houveram assim muitas cadelas e outras bichas similares porque nunca apreciara coisas esquisitas mas sempre manteve uma regra de ouro de nunca mas mesmo nunca ter mais do que uma fêmea em cada porto.

Com o passar dos anos era inevitável que os filhos começassem a aparecer como surpresas no regresso a cada lugar e quando ouvia aquela frase gaguejada que começava quase sempre com um querido tenho uma coisa para te contar, lá punha o seu sorriso mais complacente e um brilho de orgulho no olhar que mirava os pimpolhos que lhe eram apresentados como seus e nunca mas mesmo nunca contestou a sua responsabilidade paternal, mesmo quando era por demais evidente que havia ali qualquer coisa estranha e as contas nem batiam certo. Se o queriam para pai, se achavam que ele era cão suficiente para ter aquele papel, ele só se poderia sentir orgulhoso e abraçar aquele que o esperava como exemplo como seu de sangue e sentimento.

A fortuna nunca apareceu de um pontapé numa pedra, mas o tempo e alguma poupança trouxe um pé de meia que lhe permitiu encarar o Outono da vida de uma forma mais serena e menos atribulada e um dia o Horácio acordou decidido e disse às pulgas que ia voltar para casa e elas perguntaram, mas a qual casa, uma vez que tantas tinha e o Horácio com o olhar mais sério do mundo e algo zangado lá lhes explicou que independentemente das andanças, casa só havia uma, lá bem longe onde as uvas produziam vinho que lhe recordavam a cara do pai e toda a comida tinha o cheiro da mãe e nesse mesmo dia se pôs a caminho e ao chegar comprou por bom preço a tasca do cavalo do Manel que se queria retirar para pastagens mais verdejantes e de vento mais sereno e rapidamente conquistou a clientela que já era cliente e outra que pela simpatia e boa pinga cliente se fez.

Agora o Horácio estava ali de tomatada inchada prestes a contar aos amigos que na véspera lhe tinha entrado pela porta um dos filhos longínquos de quem mais se orgulhava e que tinha trazido com ele uma história que lhe voltara a acordar a sede de aventura…


The Specials - Ghost Town

domingo, 4 de abril de 2010

Diário de um louco impoluto – Dia 22


Estou parado num sinal vermelho. A sociedade estabelece códigos simples para nos dar ordem como partes individuais que deviam funcionar num todo. Vermelho para parar, amarelo para atentar, verde para realizar, não há complexidades nas cores para que o cérebro não tenha dúvidas na mensagem, educação, formatação, condicionalismo reflexivo na mais pura e elementar essência. Como que para me contrariar os pensamentos observo um casal de cegos que atravessa a estrada à minha frente. De braço dado exploram o caminho com varas compridas de metal, tic tic tic tic e avançam. O homem é mais velho que a mulher, tanto podem ser um casal como pai e filha mas as varetas nunca se cruzam e é essa a dança que me fascina, tic tic tic tic, não consigo perceber a diferença de cada som porque só ouço tic tic tic tic, mas sinto que para eles há tics que são sons de cor vermelha e tics que são sons de cor amarela e tics que são sons de cor verde e o casal chega à segurança do passeio e procura a referência da parede e depois segue decidido para um café quase junto à esquina, encontram a porta com uma facilidade impressionante e deixo de os ouvir, tic tic tic tic.

Estou tão fascinado que me desligo do condicionalismo reflexivo que me diz para avançar porque o sinal ficou verde e sou empurrado de novo para a realidade por um coro de apitos e faces iradas de pessoas que não tem tempo a perder com um casal de cegos que não vê vermelhos, nem verdes, mas que sabem a diferença de cada tic tic e que até podem ser pai e filha mas que fazem dançar as varetas sem nunca as cruzar. Não consigo conceber poder ver sem os olhos e decido na minha visão romântica de que vejo aquele casal unidos pelo sangue e pelo defeito e pela qualidade na partilha da ausência de luz e que não cruzam as varetas para poder aumentar a amplitude dos sons da sua visão.

Não concebo imaginar sem uma imagem e não sei se sou afortunado ou limitado pela minha visão. Vi dois cegos que imaginei como um pai e uma filha cegos da sua cegueira e avançando de braço dado sem medo de superar os obstáculos que a vida ou o acaso ou o que foi que o destino ou o acidente lhes colocou no caminho porque é preciso avançar para poder chegar a algum lado. Não consigo imaginar uma imagem porque a vejo e não sei se nesta minha limitação não perdi espaço para a minha imaginação. Estou condicionado pelo preconceito de cores que não imagino porque as vejo e que me impõem reacções de avançar ou hesitar ou parar.

A minha cegueira não é física é uma cegueira de ignorância e não tenho com quem a partilhar de braço dado e sinto vontade de falar com aqueles cegos. Queria perceber como ouvem as cores e as cheiram e as sentem com a pele dos dedos. Queria poder apagar todas as cores e imaginá-las de forma diferente, sinto-me egoísta por isso, sinto-me egoísta pela atracção da liberdade da cegueira, sinto-me egoísta porque sinto que aqueles cegos provavelmente dariam tudo para poder ver o que eu vejo e não perceberiam porque quereria eu poder imaginar o que eles não conseguem ver. Fecho os olhos mas a escuridão não me liberta, é apenas escuridão sem nenhuma luz, a imagem do que me rodeia não muda no meu imaginário porque apenas fechei os olhos.

Queria hoje voltar a rebaptizar as cores, imaginar o amarelo do calor do Sol e o azul do som do mar e o verde do cheiro da relva acabada de cortar e o branco do frio da neve e o vermelho da paixão no sentir bater um coração deitado a meu lado na cama. Queria hoje inventar novas cores, a cor do suor, a cor de uma lágrima, a cor de um riso, a cor do amor e a cor do ódio. Queria hoje libertar a minha imaginação de todas as cores que me oprimem e libertar-me desta cegueira que me entra pelos olhos.

Wah - Story of the Blues

segunda-feira, 29 de março de 2010

Criação literária


Este blog um dia destes vai fazer dois anos e quem por aqui passa e não vai apenas passando já terá reparado que tenho postado menos, andado mais ausente destas e de outras paragens virtuais. Não posso dizer que é desencanto, nem que o que me motivava há um ano atrás me deixou de motivar, mas na realidade a minha vida mudou radicalmente neste último ano, nem tudo foram rosas e nem tudo foram ainda prosas mas os espinhos também não foram mais do que arranhões e comichões, coisas que incomodam mas que não deixam marcas, coisas que o tempo tornarão insignificantes.

Posso dizer que dentro dos muitos tipos de blogs que por aí pululam este é um que mostra a música que me apetece ouvir e a minha criatividade na manipulação das palavras em formar coisas escritas. Já tive por aqui quem me dissesse que tinha jeito para escrever, já tive por aqui gente que disse que eu não percebo nada disto mas tenho a mania que percebo e gente que nem se rala se eu escrevo bem ou mal mas que gosta ou se diverte ou se acalenta com o que lê por aqui. Na realidade eu, acima de todos os que por aqui passam, gosto do que escrevo e de como escrevo, eu sou o meu maior critico e apreciador e por isso tenho postado menos, porque agora ao contrário do que acontecia há um ano atrás já não encho chouriços, escrevo quando sinto vontade e necessidade escrever e o que sai me dá prazer de ler.

Tenho lido alguns dos blogs que por aí pululam e há por aí alguns muito bons e de gente que tenho que reconhecer que escreve bem e que até me deixam com uma pontinha grande de inveja, muitos estão ali ao lado evidenciados mas há outros que por vezes espreito e que não consigo perceber o que leva a achar quem escreve e quem lê que vale a pena continuar. Não vou dar exemplos, mas desgosto sobretudo dos que semeiam palavras caras e com muitas sílabas e de preferência completamente desconhecidas do comum dos leitores, há que impressionar pela evidência da sabedoria do escritor sobre a ignorância do leitor, porque quem não consegue perceber a beleza da veste do rei que vai nu ou é muito burro ou para lá caminha.

Gostava de saber escrever como escrevem os grandes escritores. Os textos que me dão mais prazer de ler foram invariavelmente escritos por mim num frenesim em minutos e sem mudar uma única palavra, como num transe criativo. Eu acho que o que me separa dos grandes escritores é que eu apenas consigo ter transes criativos de curta duração e que estes os conseguem manter no tempo que intervala o era uma vez e o fim. Que raio de merda esta de não ser mais do que um gago criativo…



Pearl Jam- Just Breathe

segunda-feira, 22 de março de 2010

Comboios


Sinto saudades do tempo em que os comboios eram enormes na minha perspectiva de menino e me deixavam a pensar que eram coisas zangadas, veneráveis e respeitáveis porque faziam barulho e fumo e cheiravam a cheiros que eu não cheirava em mais lado nenhum. Sempre gostei de comboios. Sempre achei que um dia como o de hoje poderia procurar um comboio que me levasse para um outro sitio qualquer. Sempre imaginei que um dia chegaria de gabardine cinzenta e chapéu de aba, elegante e distinto de mala imaculada de cigarro no canto da boca como num filme negro sem outras cores que não as que derivam do branco e do preto e que estaria parado na gare um grande comboio, qual ser ou máquina mitológica à espera que eu chegasse, o tal passageiro especial à volta de quem toda a acção se desenrola e que calmamente entraria a bordo com um olhar enigmático tiraria o chapéu sorrindo para os outros já sentados que espantados com a minha presença nada diriam, pela sua condição de meros figurantes e que me iria sentar no melhor lugar da carruagem junto à janela depois de ter depositado em segurança a mala num compartimento à altura da minha cabeça. O comboio partiria e tudo o resto seria uma aventura cujas dificuldades apenas serviriam para demonstrar as minha capacidades e o final nada mais do que seria feliz.

Afinal na vida real existem apeadeiros ou locais por onde os comboios passam nem sempre parando mas eu sim estou aqui parado e o pesado casaco já me fez suar debaixo da chuva quente desta meia estação e os cigarros que fumei são vazios de encanto e cheios de nicotina que me faz tossir e cheirar mal e tenho pousada uma mala velha cheia de roupa e outras coisas que lá enfiei sem critério e espero que ainda pare por aqui um comboio em breve, porque nem sempre param, porque este é um mero ponto de passagem onde esperam pessoas vulgares, pessoas de apeadeiros, pessoas que estão num meio entre destinos que não é tão importante para que todos os comboios lá parem. Estou num meio entre destinos e tenho no bolso um bilhete de comboio que gostava que me garantisse passagem segura a um outro sitio qualquer que não sei onde fica e não quero saber como lá chegar mas espero que o comboio lá me leve, seguro sobre os carris assentes por quem aprendeu antes de mim o caminho que leva a esse outro sitio qualquer.

Sei que passei por louco quando disse ao cobrador que queria um bilhete para um outro sitio qualquer e nem me sorriu quando perguntou se queria que esse outro sitio qualquer fosse outro longe ou outro mais perto. Longe o mais longe possível, quero que o que me custou a partir me compense o que vai demorar a chegar, quero ainda poder apreciar a viagem, sem tempo ou pressa, ver a paisagem até que me pareça que é ela que se move no meu referencial parado num ponto para onde o ponteiro do relógio apontou e não mais se mexeu. Não me importa as etiquetas de covardia e desprezo com que vão classificar a minha fuga, aliás já nada me importa, quero ser neste comboio o mesmo passageiro insignificante que fui na vida, quero não ser notado nem pelo meu riso nem pela minha lágrima, já não me importa sequer ser memória, quero apenas poder embarcar depressa no comboio que me leve aquele outro sitio qualquer sem nunca lá chegar até que a morte da vida me separe.


The Clash - Train In Vain

sábado, 20 de março de 2010

Fabulando [2]


e o Januário acabou a ir pelos ares…
…E aterrou estatelado no solo com todas as penas em desalinho meio tonto senão tonto de todo sem perceber o que se tinha passado, o pato ria a bandeiras despregadas com o bico tão aberto que parecia que só tinha bico e a vaca de pernas bem escancaradas e rabo no chão esfregava a genitália na relva e gritava de aflição. Januário que podia lá ter a mania que era galo mas no fundo era boa ave, levantou-se a correr em direcção à vaca para lhe perguntar: “magoei-te querida? Fui muito bruto?” o que ainda fez com que o pato mais se desmanchasse, tanto que quase só faltava cobri-lo de arroz e levar ao forno. A cena era realmente digna de um bom realizador Italiano daqueles que é pecado dizer que não se percebe patavina o que querem dizer, a vaca que se esfregava com ar doloroso, o pato que se rebolava de asa na barriga a grasnar risadas e o pobre do Januário galo de boa criação aflito com a donzela em sofrimento.
No fim tudo se acalmou e a Vaca que até tinha nome mas que o guardava só para si porque na vida que levava gostava de o preservar a bem da família, lá se recompôs das pernas e depois de respirar fundo uma ou cinco vezes pediu desculpa ao galo porque não sabia o que se tinha passado e que nunca antes se tinha passado daquela forma e ambos se viraram para o pato como se à espera que dali, viesse a sabedoria que os esclarecesse e este quando reparou que só ele ainda achava graça à história de uma vaca quase entrar em dores de parto quando acirrada por um galo velho lá encolheu os ombros e disse ao galo que o melhor era irem beber um copo à tasca do Horácio porque pelos vistos a vaca era alérgica a cabidela. Ahhh, disseram vaca galo com alívio e o pato que era sacana como um macaco não pôde deixar de reparar na ironia do trocadilho.

O Horácio contrariamente ao que se podia por um momento pensar não era um cavalo mas um cão rafeiro que se dizia perdigueiro e que era dono de uma taberna ao fundo da terra no cruzamento da estrada que vinha debaixo com a outra que ia para cima. Animal vivido tinha sempre uma boa história para contar desde que não se fosse para o tasco fazer sala e sorriu quando viu entrar as aves, o pato que conhecia pelo nome de Alfonso ou lá o que era e o seu grande amigo Januário de que se lembrava desde o tempo de pinto, recebeu-os de patas abertas e logo perguntou o que queriam beber. Ficaram-se pelas cervejas porque estava calor e lhes apetecia leguminosas mas que estavam salgadas como tudo e atrás de um pires veio outro e passado um bom bocado já atafulhavam os bicos de gargalhadas e cascas de tremoço e a mesa composta com canecas alinhadas pelas asas.
O Horácio ao vê-los tão animados foi-se chegando e num sussurro disse-lhes que tinha uma coisa para contar mas que só sobre juras de segredo daquelas inquebráveis sob pena de lhes cair todas as penas, lhes podia contar…



Madness - One Step Beyond

quarta-feira, 17 de março de 2010

Fabulando [1]


Januário era um galo que já não tinha a crista tão altiva como antigamente e a voz esganiçava-se para ainda acordar a vizinhança mas não queria de forma alguma dar parte de fraco e mantinha a galinhagem sempre de rabo encostado à parede, mais pelos arremessos e bater de asas do que pelos arrebites porque na realidade aquilo que tanto o orgulhara na juventude já pouco ou nada se levantava.
Um dia em conversa com um pato faroleiro da vizinhança que por ali passara para trincar umas maçãs que por aquela época caiam em abundância da velha macieira junto ao córrego, soube que havia não muito longe dali uma vaca nova que era um espectáculo de criatura com uns quadris arqueados e tetas rosadas espetadinhas e que não era nada esquisita não se importando de dar umas baldas a quem fosse que fosse com vontade de a pôr a mugir com gosto. Claro que o Pato se gabou de já lá ter ido e que a coisa tinha sido de tal forma que a bovina até esfregara com os cornos no chão de tanto prazer e o Januário que nunca fora de levar desaforo para casa disse logo que amanhã mesmo lá iria cantarolar à dita e que se ela fosse na conversa não só a poria de chifres bem enterrados como todo o lameiro ficaria bem lavrado com o arrastar do bicho. O pato que era esperto como um sabujo e percebendo que o galo só estava a cantar de galo quis apostar que ele nem a faria balir e o galo não teve outra hipótese sob pena de cair em descrédito com as frangas de aceitar a aposta.
No dia seguinte ainda o Sol não ia muito alto no céu, já o desgraçado do pato o esperava ao fundo do caminho com ar de ganso convencido e Januário lá teve que ir atrás dele certo que aquele seria o caminho que o levaria ao fim dos seus dias de soberania na capoeira e que para além de ir perder como paga da aposta aquelas três penas do cu que tanto se orgulhava ainda iria ter que aguentar com a história de fracasso que o malfadado anfíbio poria a circular. Mal chegado avistou logo a bela da vaca ruminando sobre a erva verde e que bela ela realmente era, toda branca com malhas negras bem dispostas e grandes olhos pestanudos, uma tesão noutros tempos e agora apenas uma comichão mas lábia ainda tinha e depois de um pequeno prefácio de dois dedos de conversa a animal lá percebeu ao que vinha e encolheu os ombros e piscou o olho em sinal que queria festa e o bom do Januário lá se encavalitou na sua traseira para pelo menos dar o seu melhor e depois foi um ver se te avias a vaca de repente desatou aos saltos e aos pinotes e o Januário acabou a ir pelos ares…

(Nota do autor: Estou cansado vou dormir acabem lá a história por mim sff.)


Fun Boy Three - The Lunatics Have Taken Over the Asylum

terça-feira, 9 de março de 2010

Esperarei por ti…

…O tempo que for preciso.

Skylark
Have you anything to say to me
Won't you tell me where my love can be
Is there a meadow in the mist
Where someone's waiting to be kissed

Oh skylark
Have you seen a valley green with spring
Where my heart can go a-journeying
Over the shadows and the rain
To a blossom-covered lane

And in your lonely flight
Haven't you heard the music in the night
Wonderful music
Faint as a will o' the wisp
Crazy as a loon
Sad as a gypsy serenading the moon

Oh skylark
I don't know if you can find these things
But my heart is riding on your wings
So if you see them anywhere
Won't you lead me there
Oh skylark
Won't you lead me there


Renee Olstead & David Foster - Skylark

sexta-feira, 5 de março de 2010

Porque hoje é mesmo sexta…


… e a Story que é aquela miúda que sabe mesmo tudo deu o mote desta música fantástica que os Cure fizeram em resposta aos New Order e porque hoje é mesmo sexta deixo-vos aqui um desejo e um desafio de vida, ora ouçam lá com atenção a letra.


The Cure-Friday I’m In Love

terça-feira, 2 de março de 2010

Inquisitório - Sobre existencialismos e outras coisas acabadas em ismos ou paralelismos no mesmo tom

Estamos num inverno que parece teimar em continuar cinzento e húmido e de todo o lado vêm sinais que anima quem nos quer desanimar com imagens apocalípticas e já agora vender um lugar cativo para um espectáculo do fim do mundo. Este é o tempo propício para pensamentos de dúvida e ideias de incerteza. Do optimismo do pessimista se faz o pessimismo do optimista e apetece-me uma resposta original a estas perguntas:

1- Levantar de tarde numa manhã de domingo é uma questão de orgulho ou de preconceito?

2- É mais aceitável socialmente tirar macacos do nariz ou do sótão?

3- Optas pelos teus slips dogmaticamente ou paradigmaticamente?

4- Porque é difícil de acreditar que a descrença no amor à primeira vista não é apenas miopia?

5- Chanel?

6- Pensão completa com Jacuzzi no inferno ou com sauna no paraíso?

7- Por quanto tempo pensas que podes parar no meio do parque a olhar os pássaros chilrear, as flores a crescer, as crianças a brincar, os cisnes brancos flutuando no lago e o calor do Sol a aconchegar-te o corpo envolto numa brisa suave sem que um pombo te cague em cima?

8- Por que raio a música deste post fala de uma segunda-feira se hoje é terça?


New Order - Blue Monday

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

I’m late, I’m late for a very important date


Tic tac tic tac tic tac. Passo o tempo a sentir o tempo a passar ou passo o tempo a querer que o tempo passe. A diferença entre o sentir e o querer não impede o tempo de passar.

Tic tac tic tac tic tac. Passo o tempo a querer ainda sentir ou passo o tempo a sentir ainda querer. Gostava de querer sentir a diferença de passar o tempo a sentir querer a indiferença do tempo passar.

Tic tac tic tac tic tac. Sinto-me já diferente porque o tempo passa e quero ainda ser indiferente por me passar o tempo. Ainda ontem era hoje e já hoje será amanhã.

Tic tac tic tac tic tac. Será ainda cedo ou já será tarde para passar o tempo a ver o tempo passar porque ainda ontem era cedo e já amanhã será tarde.

Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac.


Norah Jones-Chasing Pirates

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Boletim Informativo


Há muito tempo que não escrevo neste blog apenas pela obrigação de escrever. Raramente escrevi neste blog de forma explícita sobre a minha vida pessoal. Apenas aqueles que me conhecem pessoalmente encontram nas minhas palavras significados que são não mais do que abstracções semânticas.

Muito se tem falado ultimamente de liberdade de expressão e tenho visto que por vezes há quem invoque nos blogs essa liberdade de poderem dizer o que lhes vai na cabeça e que em nome dessa liberdade de expressão ninguém tem o direito de lhes tirar esse direito.

Ora bem, um blog não é um meio de informação público. Pelo menos este não o é. Aqui só há uma pessoa que tem total liberdade de expressão porque entendo este blog como a minha casa de palavras. Isso não quer dizer que pretenda fazer censura ou que não aceite quem me critique ou que me dêem opiniões, mesmo que essas não sejam as minhas, nada disso, mas reservo-me no entanto o direito de poder ter a última palavra.

Por aqui só havia uma pessoa que não era bem vinda, agora há duas e isso porque no passado dia 10 às 8h30 da manhã tive uma visita oriunda de uma empresa de crédito automóvel e que me visitou depois de ter recebido um mail calunioso a incentivá-la a vir aqui ler pretensos insultos. Ora a verdade só é insultuosa para quem não tem vergonha na cara e depois quando quiser insultar alguém, irei fazê-lo de forma clara e inequívoca e não omitindo as razões que me levam a fazê-lo e até pode ser que o faça um dia, mas não tenho nisso nenhum objectivo de vida.

À semelhança de muitos, este frio e outros afazeres tem-me mantido afastado de blogoesfera, mas este blog não vai fechar e espero em breve retomar a escrita regular de vários textos que tenho na cabeça, mas gostaria que de uma vez por todas que quem não gosta do que escrevo ou quem não gosta de mim e do que sou e do que represento, não ponha aqui os pés, nem aquela que não é bem vinda, nem a outra que vem para poder anuir ao fel. Façam lá o favor de ficarem no vosso canto de insignificância que eu ficarei no meu.


The Clash - London Calling