quinta-feira, 30 de abril de 2009

Floresta



Eu hoje caminhei nu na submissão da ausência.

Fui transportado por um fio de vento a um lugar vazio de memórias e de tempo, senti nas palmas dos pés o veludo fresco do musgo e bebi do cheiro do verde até à transfiguração da carne em casca, dos membros em tronco e do que me sobrou de pele em folhas de livre forma. Sou arvore no ponto de vista da floresta.

Calei a minha voz no burburinho do silêncio, sequei a minha seiva na cristalização da aparência, estou sem ali estar, sem porem nem vez abarco a compreensão da incompreensão ou a aceitação da irrelevância e oculto na sombra o brilho que nunca foi mais que um mero reflexo.

Agora deixei de ser percebido e sou o que sempre soube ser, uma arvore a mais na floresta, invisível e indistinto.
The Cure-A Forest

terça-feira, 28 de abril de 2009

Anatomia do desejo



Tenho paixão por palavras que se estendem alem da compreensão ainda pela forma como nos saem num sussurro. Tenho paixão por verbos de posse e vontade.

Eu desejo; eu tenho desejado; eu desejava; eu tinha desejado; eu desejarei; eu terei desejado; eu desejei; eu desejara; eu deseje; eu tenha desejado; eu desejasse; eu tivesse desejado; eu desejar; eu desejaria; eu teria desejado; eu ter desejado.

O desejo é a génese do pecado.

Na Vaidade desejamos superlativar o que temos e o que somos, desejamos ser belos da frente e do avesso, desejamos que nos venerem, admirem, idolatrem e amem, desejamos ser fonte e causa de outros desejos.

Na Inveja desejamos as existências dos outros, desejamos o material e suas conquistas, desejamos a abstracção da mesquinhez, desejamos a razão justificada na fome e na secura, desejamos tudo na ânsia do desejo.

Na Ira desejamos a racionalização da raiva, desejamos a capacidade de cegar da visão do mal, desejamos a força de dobrar vontades, desejamos realimentar ódios e angustias, desejamos aniquilar a vontade de qualquer desejo.

Na Preguiça desejamos a continuidade do vazio, desejamos a invenção da ausência da necessidade, desejamos estender inércias e abençoar entropias, desejamos perpetuar num instante de eternidade o acordar do desejo.

Na Avareza desejamos preservar a posse, desejamos ocultar pensamentos de miséria e pequenez, desejamos que o nosso todo se multiplique com a intervenção do nada, desejamos sobretudo evitar a partilha do desejo.

Na Gula desejamos saciar a abundância , desejamos devorar o pouco e o muito, desejamos o doce e o salgado, desejamos lambuzar, engolir, mastigar, regurgitar, desejamos consumir o próprio desejo.

Na Luxúria desejo a humidade do vermelho dos teus lábios, desejo o sentir dos teus poros, desejo o túrgido dos mamilos no teu peito, desejo o conforto das tuas coxas, desejo o calor do teu interior, desejo o simultâneo do teu êxtase, desejo simplesmente o teu desejo.

Eu pecador me confesso.
Procol Harum-A Whiter Shade Of Pale

domingo, 26 de abril de 2009

O Privilégio do Disparate - Terceiro de acordo com a grã ordem do puxas dai que eu empurro daqui.


Hoje esta coisa vai ser bilingue e que jeito dá a palavra coisa, nem sei se podia viver sem ela, porque embora uma coisa ser uma coisa e outra coisa ser outra coisa, às vezes apetece-me mesmo qualquer coisa e esta coisa de desejar uma coisa têm cada coisa que na volta coisa connosco.

How to recognize different types of trees from quite a long way?

Nº 1: The Larch


Isto de fazer humor tem que se lhe diga, não é para qualquer um e sendo escrito bem me posso pôr para aqui a dar traques que nem vos consigo provocar sequer um sorriso amarelinho de ovo mexido com chouriço e cogumelos e pedacinhos de presunto daquele da pata negra e pata negra porquê? O raio do porco não se lavava? Aquilo passou pelo controlo higiénico da ASAE? E o que quer afinal dizer ASAE? Estas e outras questões atormentam-me:

Nº 2: The Larch


Aqui há uns anos, uma meia dúzia de rapazitos acharam que podiam fazer o que lhes dava na bolha e que a malta aborregada se ria, aliás que se mijava a rir, aliás quem não se ria era mesmo muito burro, mas não foram muito longe e a mim não me enganaram não, nem sequer os idolatro, venero, pythonizo ou gostava de ter uma fracçãozinha imprópria do seu talento:

Nº5: Chanel… Nº5: The Larch


Mas voltando à ASAE o que é que aquilo quer dizer, se andam para ai a impedirem-nos de comer porcarias quererá dizer Associação Saudável da Anorexia Esquelética, pois é saiu disparate, but that’s the point, ainda não tinham percebido:

Nº23: The Larch


Eu gosto de comer as porcarias que os meus avós podiam comer à vontade e gosto de comer nas tascas do meu País e ofendem-me aqueles que acham que eu não sei zelar pelos meus direitos, foda-se se sou mal servido ou se não gostei de ver o cozinheiro a tirar macacos do nariz, enquanto amassava os rissoles de camarão, não regresso a não ser que a empregada seja daquelas brasileiras de boa tranca com um cu que nunca mais acaba, ai a coisa muda de figura e olha lá voltámos à coisa, mas também foi por essas razões que o dono contratou a Brasileira, porque sabia da predilecção do cabrão do cozinheiro de catar burriés a qualquer hora, mas que eu lhe perdoava a olhar para a bilha da empregada que é cá uma coisa:

Nº35: The Larch


Pois os tais palermas que se achavam engraçados, nem sequer eram Portugueses, mas por cá durante uns tempos ainda se pôs pão com manteiga na coisa dos dois lados e a coisa até resultou durante uns tempos, nem se falava em pedofilia, quem gostava de miúdos podia comer sem se preocupar de que as moelas fazem parte do sistema urinário das galinhas e já alguma vez viram uma a mijar? Aquilo tem muita pinta:

Nº69: Lack of Imagination… Nª69: The Larch


E assim acabei por falar das coisas e de outros tipos que me fizeram rir em tempos porque ousaram a diferença e de merdas que me chateiam porque neste país se exagera pelo excesso e pelo defeito e porque sei que mais cedo ou mais tarde alguém se vai lembrar de regular a dimensão da peida da empregada, banir publicamente os petiscos de entranhas de galinha mas permitir que se possa continuar a papar miúdos, desde que se seja discreto assim como à coisa de não se poder comer joaquinzinhos que às tantas já ninguém liga.

And now for something completely different:

Nº 1: The Larch


A minha amiga Pronúncia que desconfio vê a coisa por um canudo é boa moça mas um pouco tonta e vai também decidiu cometeu o disparate de me conceder o privilégio de me dar um prémio, é claro que ela sabe o quanto me afecta com a sua amabilidade, acho até que faz de propósito e aqui vai ele ficar guardadinho:



Quase todos os blogs que sei merecerem este prémio já o têm por isso vou apenas passá-los a duas bloggers a quem aprecio o humor e o savoir faire, como raramente passam por aqui muito provavelmente nunca o vão descobrir e eu também não lhes vou dizer nada porque sou tímido, são coisas…

Jane
Vani

Ainda a pensar na minha amiga Pronúncia, tenho cá a impressão de que gosta de um bom Nespresso, por isso esta musica é inteirinha para ela e já agora aproveitem a dica e se não viram vejam esta versão da Odisseia imaginada pelos irmãos Cohen que são uns raros Americanos com sentido de humor a sério.

Soggy Bottom Boys-I Am A Man Of Constant Sorrow

sábado, 25 de abril de 2009

Réquiem para uma ressurreição


Às vezes morremos e não demos por isso. A morte não tem que ser um acto físico, não tem que ter outros de negro, nem esquife, nem flor, nem corpo, nem alma, nem mais palavras.

Uma flor morre num acto de secura, num ultimo odor, engelha-se, cristaliza-se no tempo e murcha.

Um corpo morre num acto de paragem, num ultimo bombear, expira-se, arrefece no espaço e apodrece.

Uma palavra morre num acto de sufoco, num ultimo engolir, dilui-se, esvazia-se de sentido e apaga-se.

Uma alma morre num acto de fraqueza, num ultimo sentir, escurece, isola-se no tempo e no espaço e no sentido, murcha e apodrece e apaga-se.

Mas a morte d’alma não é um acto físico, não será incondicionalmente permanente, imutável da nossa vontade e eu visto o token da Fénix e ainda me consumo na dor da sua chama num processo lento de agonia em direcção à emersão de um novo eu, que será talvez um pouco mais de mim.

Queen-Bohemian Rhapsody

sexta-feira, 24 de abril de 2009

H. B. H.

As palavras às vezes atrapalham-me.



Michael Bublé-Save the Last Dance For Me

terça-feira, 21 de abril de 2009

Despudores de uma Lua de desamores


Nada é por acaso. Sou encantado por uma Lua cheia que me banha com a sua luz de mel mas que sempre me manteve na sua distância inculpável porque não pode esconder os seus reflexos. Não me pode matar, nem secar por não ser mais do que sempre foi, um brilho no longe, não é por acaso que me encanta sem me alentar.

Os desencantos de um desamor não são reflexos de Lua mas rastos de tempo, restos de secura, rasgos de alma, escuridão de fel que perdura e nos faz acreditar que somos mentiras levadas pelo vento, inconsequentes agrilhoados ao dever.

Mas eu não deixo de sonhar com a Lua atraído pelo seu despudor quando me refaz o manto de alma e me alimenta de desejos de outros brilhos de doçura, esperanças de tempo que se recupera e finalmente sim significar na partilha.
Echo and The Bunnymen-The Killing Moon

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Privilégio do Disparate - Segundo a hierarquia dos refogados



Encontrei o “White Rabbit” no final das escadas, rejubilava contente e sacudia o pelo, confessou-me que tinha sido convidado para um casting com o Burton e que se terá apaixonado pela Mia, que a Bonham Carter é uma simpatia mas que eu daria um muito melhor e mais convincente louco de chapéu que o Depp. Agradeci e disse-lhe que eu e os chapéus altos não combinávamos e que não, não me apetecia beber chá e lá foi saltitante e a mim apeteceu-me coelho de coentrada e outros sabores do meu Alentejo, bem acompanhados por um bom tinto a olhar para as planícies e a admirar a simplicidade verdadeira das suas gentes.

Dei-me a matutar com os meus botões que são daqueles de quatro furinhos, em que a linha se cruza e depois fui informar-me na pastelaria como podia candidatar-me a ser corrupto. Ora o pasteleiro é um gajo porreiro, faz uma massa folhada de lamber os dedos e o que eu gosto de palmiers cobertos de doce de ovos, mas não sabia nada disso que trabalhava para vencer na vida, o tonto. Expliquei-lhe que não fazia mal. Que agora já se podia ser corrupto, desde que se pagassem os impostos, até tinham inventado um regime especial para quem quisesse ser corrupto legalmente e a legalidade é uma coisa que sempre me agradou, mostra carácter.

Depois apeteceu-me ouvir um som e voltar a pedir a licença de porte de arma, podia ser que desta vez não recusassem, que esquecessem lá essa coisa de ser mentalmente instável, há tanto doido que anda por ai assim de cara descoberta, alguns até conseguem ser figuras publicas e eu nunca iria tremer nem ficar a moer-me porque raio tinha decidido disparar a arma, afinal já deve de ter aberto a época da caça aos coelhos ou a quem legisla a bênção a corruptos que agora até contribuem para o meu bem estar.



A minha amiga Hedgie cometeu o disparate de me conceder o privilégio de me dar um prémio, ora eu não sou para levar a sério, mas gostei do gesto e como não sou de cumprir regras não o vou expor lá de lado mas fica aqui.





Supostamente devia passar o prémio a mais 10 bloggers e informa-los mas isso dá muito trabalho, há muitos que o merecem, mas já tem carradas de prémios por isso fico-me por metade e não lhes digo nada, eles que descubram sozinhos…

100 título
Dark & Beauty
FORTEIFEIO
olhARES
Pronúncia do Norte

Waldeck-Why Did We Fire The Gun

domingo, 19 de abril de 2009

Mascara



Refugio-me na mascara da palavra que me impede de mostrar quem sou. O espelho à muito que reflecte um estranho e no entretanto rabisco histórias em entrelinhas, emoções escondidas entre virgulas, paralelos na melodia de outros, alterno humores e significados em busca de talvez concordâncias, aceitações, comunhão e empatias de outras mascaras.

Por de trás da mascara o sorriso da palavra disfarça-se da dor e a acidez da frase repele a loucura, abstrai a confusão que se dilui, ilusões e desilusões, diferenças e indiferenças, purgo ou expurgo em pequenos actos de redenção na ambição de paz ou de um outro final que se alinhe.

A mascara é lisa sem sulcos, serena irrelevante aos turbilhões das outras mascaras sedentas do desejo de expor as suas histórias no exteriorizar de linhas que desenhem finalmente uma face que possa voltar a identificar como minha.

Brandi Carlile-The Story

PS. A ideia da musica foi “emprestada” daqui, sei que um simples obrigado bastará.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Purgatório



Quando alguém escarra no olho de outro, isso é um acto de diferença em contraponto à indiferença, pode-se assumir ódio desprezo desdém rancor raiva desilusão mas há o reconhecimento do outro, houve até o cuidado na acção de projectar do escarro com o claro objectivo de acertar bem no centro espalhando-se a partir da pupila mas isso requer precisão atenção cuidado .

Pode-se pensar que qualquer problema será resolvido pura e simplesmente ignorando o volante na próxima curva, mas alguém inventou os airbags, terá sido um homem de fé, com a crença de que ajudava a tarefa de Deus na protecção da vida do homem, mas qual o desígnio que nos foi atribuído? Se nada mais fizermos, respiramos bebemos comemos e produzimos fezes e urina que apenas fedem e secam sem mais benefícios, somos assim talvez a ironia de Deus, o elemento anacrónico na piada da criação, aquele que por apenas estar presente em palco causa escárnio e provoca o riso, mas inspirou um homem de fé que inventou os airbags que protegem outro homem que pensa que todos os problemas podem ser resolvidos ignorando o volante na próxima curva mas que por um acto de Deus vai poder continuar a cagar embora problematicamente.

Às vezes não me apetece rir mas pôr a nu a crueza das palavras no seu arrepio mais real e matar pombos, não que tenha nada contra os animaizinhos, embora pense neles como ratos com asas, mas apenas porque andam por ai à mão e porque não se obrigam a mais nada do que produzir fezes e urina que apenas secam sem mais benefícios, mas que voam livres na sua indiferença e não conseguem ter a capacidade de exercer um acto simples de diferença como é o de escarrar no olho do outro.

The Clash-Straight to Hell

PS.: Este Post não têm janela de comentários, porque nesta casa não se recebe amigos na casa de banho, se acham mesmo que isto é comentável , podem fazê-lo mais abaixo num sitio mais aprazível.

Redenção



Leonard Cohen-Hallelujah

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Privilégio do Disparate - Primeiro sintoma crónico



Inicio hoje uma série de crónicas regulares, debaixo da chancela de um formato a que dei o nome do privilégio do disparate, que é meu fui eu que inventei ainda andava a raspar a cara a ver se os pelinhos se espalhavam prós lados e é um conceito de poder dizer de forma escrita aquilo que me dá na real gana sem ter que ter sentido, moral ou arriscar-me a ser candidato distrital à apanha da azeitona em Amares ou ao Nobel da literatura.

Enquanto andava por ai a passear na hora do patrão, coitado está convencido que ando a fazer um estudo online para calcular o desvio padrão entre a inteligência do Bush filho e o ruminar de uma vaca leiteira açoriana, o que até a mim me impressiona e porque razão alguém encomenda estas coisas e vai na volta vou ter a um blog que me pareceu simpático e dou com isto:

http://silviaf.blogspot.com/2009/04/arte-de-bem-escrevido.html

Apeteceu-me comentar em detrimento de preencher uma folha de Excel cheia de macros e porque a minha amiga Ana gostou tanto a ponto de me deixar assim vaidoso que até pensava que aquilo era a sério e enchi-me de coragem e pedi namoro à menina que estava na paragem do autocarro com a mama meio à mostra e levei um sopapo no queijo que ainda me dói e já foi à dois dias e já tou farto de pôr gelo e daquela pomada meio rosa pastoso que cheira mal e atrai as moscas, decidi transcrever a resposta que dei, sei que é feio plagiar, sobretudo quando o fazemos a nós próprios mas eu também já desisti de ir para o céu.

“Neste momento há muitos milhares de blogs em Portugal e o numero não pára de crescer todos os dias e há de tudo, muito poucos ambicionam algo mais do que se divertir, desopilar, fugir da realidade, sentir-se menos sós, foder o juízo ao mundo, etc.
Movimentos para a correcção na escrita blogueira parecem-me redutores e até tendencialmente snobs.
Eu, que não percebo nada disto e nem sei o que é escrever bem e até avisei no meu primeiro post que era meio disléxico e que a Língua Portuguesa não tinha que se ofender comigo, mas sei o que é um bom prato de bacalhau, semeio virgulas, não faço puto ideia para que é que serve o ponto e virgula, abuso do tabaco e das reticencias e gosto de metaforar e das comparações floreadas com muitos torneados e palavras esotéricas que escolho na wikipidia e what the fuck nem sei se escrevo bem e bem do ponto de vista de quem? Do Saramago? Do Camões ou do Pessoa? Do teu? Aqui na blogocoisa tens a vantagem de que é à borla se não gostas não compraste, não precisas de pôr na estante só para encher… Olha três pontinhos que giro, dá uma ar moderno e coiso.”
Alice Russell-Crazy

Nota: Não tive qualquer duvida de que o post da Silviaf era humorístico e desde já agradeço não me ter dado explicitamente autorização para a referir, talvez porque não o pedi, senão não teria tido coragem de o fazer que eu com as mulheres derreto-me todo.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Esplendor



Algures a meio caminho do destino existe um bar de desencontros. Pode-se beber uma simples cerveja, um café ou misturas de muitos álcoois. Um balcão a todo o comprido, bancos altos, mesas desalinhadas, barman em formol, baratas sem pudor e uma juke box a um canto. O típico bar de filme, com cheiro de tabacos, suor e perfume barato.

Putas e mulheres sem mais nada a perder confundem quem entra pela primeira vez, os outros conhecem as regras do jogo, praticam os mesmos rituais de sempre, as trocas de olhares, cigarros apagados a meio, pequenos gestos e conversas sem intuitos de salvação. De vez em quando um casal levanta-se e sai para voltar desemparelhado no dia seguinte, ou simplesmente mais tarde na noite.

Sempre há os que nada mais fazem alem de encher copos vazios do seu esplendor, restos de vida flutuando de bar em bar à espera de um outro dia, de serem escolha de alguém ainda mais perdido e voltarem a ser por um instante, por um lapso de alternativa uma parte transpirada de outro corpo.
Andreas Johnson-Glorious

domingo, 12 de abril de 2009

Amor é…

…Um acorde surdo.
…Uma cor à prova de daltónicos.
…Uma dor não correspondida.
…Uma inconsequência consequente.
…Uma palavra fácil.
…Um encontro de almas perdidas.
…Um bom fim para maus princípios.
…Uma coisa fodida.
…Uma mentira piedosa.
…Um animal a não domesticar.
…Um amanhã logo se vê.
…Uma incerteza corrigida.
…Um doce apimentado.
…Um talvez melhor.
…Um tempo de temporal.
…Um verbo desconjugado.
…Uma curva rectilínea.
…Uma comichão no joelho.
…Uma ausência presente.
…Uma tinta para poesia.
…Uma lágrima seca no espinho de uma rosa.
…Uma desculpa precoce.
…Uma suavidade esmagadora.
…Um conceito comercial livre de impostos.
…Um sei lá o quê porque não li o livro estou à espera que façam o filme.
…Uma lanterna sobre um mar de desesperanças.


Gal Costa e Herbert Viana-Lanterna dos afogados

PS ... Um Acto de partilha.
http://o-pequeno-ourico.blogspot.com/2009/04/amor-e.html

sábado, 11 de abril de 2009

La Cucaracha



As mulheres não gostam de baratas, aliás as mulheres odeiam baratas, algumas até têm horror de baratas. Sempre que uma mulher grita de pânico e aponta a tremer para um canto da sala, compete ao homem com calma e sem desdém agarrar na vassoura, esmagar o bicho, varre-lo discretamente para longe da sua vista e só depois acalmá-la com carinho, respeitando e compreendendo que não é medo, porque mulher que se preza não têm medo, é mais nojo, porque aquilo é nojento, rasteja, transmite doenças e sabe-se lá por onde andou. Depois na pele do herói, pode o homem agradecer ao destino ou à sua crença Divina a presença do insecto e recolher os proveitos, primeiro um beijinho, depois um “o bicho nojento já está no lixo, amanhã vou ver se descubro por onde entrou”, depois uma carícia, um sopro suave, uma mão matreira, um humedecer de lábios, um descasar de botões, um decorrer de fechos e por fim misturam-se os suores , salivas e outros fluidos a gosto.

Mas as baratas não nos trazem só alegrias, infelizmente as mulheres gostam tão pouco de baratas que as usam como o ínfimo padrão de comparação para nos adjectivarem quando lhes caímos em desgraça.
O homem barata é o nível mais baixo da cadeia social, um ser desprezível, insignificante, asqueroso, sem princípios cuja única finalidade é a de ser esmagado naquela carapaça estaladiça e expurgar o pus esbranquiçado que se lhe alberga no corpo.

Resta-nos arrastar as patitas e procurar o abrigo de um cantinho mais escuro e fresco.
Chingon (Feat. Robert Rodriguez)-Cuka Rocka

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Inquisitório – Sobre merdas que nos passam pela cabeça…



-Porque é que os sonhos não têm banda sonora?

-A que horas passa o comboio para o outro lado da noite? Pára em todas as estações ou tenho que saltar em andamento?

-Se para fazer a omeleta tenho que usar ovos, preciso de quantos? Se juntar Bacon e a gordura derreter fica um tom amarelinho mais ou menos abichanado?

-Quando a Lua se enche é por vaidade ou só para me aluar?

-Para se surfar na maionese é preciso ter aulas de culinária ou de snowboard?

-Borregar conseguirá alguma vez ser uma modalidade Olímpica?

-As Mulheres que se queixam da falta de solidariedade pelos homens que não partilham as dores de parto, ficariam mais felizes se de 5 em 5 minutos, um de nós entalasse a colhoada no fecho das calças?

-Se não achas graça nenhuma ao que estás a ler, porque é que continuas?

-Porque é que o Diabo não aceita hipotecas nem alugueres de longa duração?

-Porque é que a Scartett Johasson nunca me comenta os posts?

-Quando a neura me está a foder o juízo, isso é sexo tântrico ou apenas masturbação?

-Se a culpa não morre solteira, porque é que os mordomos são celibatários?

-Será que o Pavlov tinha alergia a pelos de gato ou era compulsivo?

-Se o FCP é o clube Português com mais sucesso na Europa, porque é que ainda não mudaram a merda da cor aos semáforos?

-Porque é que o Bacalhau à Zé do Pipo ainda não é património da Unesco?

-Se continuas a não achar nenhuma graça a isto, porque é que ainda aqui estás?

-Porque é que a Penelope Cruz em vez de me enviar mails , não diz à Scarlett Johansson para me comentar os posts? Afinal elas são amigas ou não são?

-Se o coelhinho da Pascoa põe ovos de chocolate, porque é que o ensopado de lebre não faz parte da lista de sobremesas?

-Porque é que os homens nunca conseguem resistir a foder uma amizade?

-Se o sexo dos homens fosse na ponta do nariz que nome se daria à impotência? Seria correcto continuar a dizer “santinho” quando se espirra? Será que o Papa Bento condenaria os lenços de papel?

-Porque é que não nos basta juntar agua?

-Despontar é ter falta de tesão?

-Se o sexo da mulheres não é nas orelhas, porque é que lhes continuamos a dar conversa?

-Se já chegaste aqui porque é que não lês o resto?

-Porque é que nos olham de lado se pedirmos um par de profiláticos numa sapataria?

-Porque é que um brilho no olhar me encanta tanto o desencanto ò malaguena salerosa debajo de esas dos cejas?

-Porque é que achas que este post nem merece um comentário?


Shivaree-Goodnight Moon

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Francis Ford


Coppola é um daqueles realizadores que não nos consegue deixar indiferentes. Assumindo que me sinto mais invejoso pelo talento do Tarantino, não deixo de retornar algumas vezes, por puro prazer, a filmes como os Padrinhos, Apocalypse Now, Os Marginais, Rumble Fish, Cotton Club e Peggy Sue Got Married, podemos acrescentar ainda à sua contribuição para o Mundo do cinema, a responsabilidade no lançamento de George Lucas com a produção do seu muito interessante American Graffiti.

Mas, o seu filme mais belo (imho) é One From the Heart. E quando digo mais belo refiro um conceito de beleza brilhante de néon com personagens que se cruzam numa noite de Las Vegas ao som da banda sonora mais fantástica que alguma vez se escreveu. Não tenho competências de critico nem me apetece estragar o seu efeito, por isso nem vou falar da história, mas se nunca viram o filme, façam-no, façam-no despidos de preconceitos, façam-no sem expectativas, fixem-se na estética da fotografia e ouçam, sobretudo ouçam enquanto se deixam envolver pela luz da noite que brilha na tela, no final posso-vos garantir que irão ficar a amar ou odiar o filme, nunca indiferentes.

Uma ultima referência a um grande actor que já partiu deste palco, Raul Julia, o imortal Gomez Addams, que aqui têm um dos principais papeis da sua carreira.
Tom Waits and Crystal Gayle-One from the heart intro
Crystal Gayle-Old boyfriends (music by Tom Waits)
Tom Waits-I Beg Your Pardon

domingo, 5 de abril de 2009

A Bela ou o Monstro?



Retorno aos filmes da Disney, com as suas mensagens ocultas, escolhendo hoje um dos mais óbvios crimes cinematográficos contra a emancipação das Mulheres , a Bela e o Monstro. Neste filme os autores revelam o seu desdém por elas, retratando as suas fobias e facetas psicóticas, dualidades de carácter e os seus monstros interiores.

No Inicio, temos a Bela, moçoila jeitosa e ambicionada pelos jovens da aldeia e a quem o melhor partido da região, o topo da lista dos solteiros mais desejados decide fazer a corte.
Num mundo normal que não o doentio dos animadores, a Bela aceitaria de imediato a proposta, teriam um curto noivado e um casamento de 1223 convidados, três filhos e embora casada com um burgesso fingiria felicidade para sempre. Aqui é retratada como uma gaja fútil e caprichosa que despreza o rapaz. Não contente decide fugir e perde-se numa floresta, que não é mais que uma imagem surreal do labirinto mental e atormentado da jovem.

Desvairada refugia-se num castelo, uma vez mais uma alegoria e o retrato pícaro da concha onde se fechou e é ai que todas as suas psicoses e traumas são demonstradas, com diálogos alucinados com chaleiras falantes, peças de mobiliário clássico saltitantes e archotes cantando com sotaque francês, encenações dignas de um Shining moderno com actores de papel.

No final a cena mais marcante com a Bela assumindo o seu Monstro de Mulher inconformada, dançando e beijando-o , enquanto o povo em desespero a tenta ajudar a derrotar a fera. A mulher reduzida a um ser narcisista acaba por transformar o seu desejo em corpo de homem idealizado manifestando o desprezo pela realidade da vida e a aceitação dos machos como parte dominante de uma relação saudável à luz do que é decente e aprovado pela santidade do matrimónio.
Tom Waits and Crystal Gayle-One From The Heart

sábado, 4 de abril de 2009

LSD


O Lysergsäurediethylamid ou dietilamida do ácido lisérgico, dizem as mais línguas, é uma fonte artificial de loucura, foi droga da moda nos anos 60 e um catalisador de criação artística.

É produzida a partir de cogumelos do centeio o que não quer dizer que baste deixar o pão ganhar bolor para a sintetizar. Têm a vantagem de não fazer mal ao fígado mas pode no entanto provocar visões de flores gigantes e coloridas, rapariguinhas de cabelo trigueiro de roçar pelos pés a correrem nuas em parques eólicos e políticos verdadeiramente honestos.

Foi usada pelos militares para melhorar o ambiente das tropas e abusada pelo Coppola no seu Apocalypse. Alguns médicos pica miolos e estudiosos de comportamento humanóide recrearam-se com os seus efeitos.

Os seus defensores alegam que nunca foi provado a existência de perigo de overdose e que fritar a tola também pode ser consequência de se passar muito tempo na praia de Carcavelos.

Aqueles que já me conhecem percebem que esta conversa toda não é mais do que pretexto de voltar a falar desta menina linda que vêm a Portugal em Julho e que se puder lá estarei para lhe apreciar os talentos.
Katie Melua-Lucy in the Sky with Diamonds

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Singeleza

Nesta solidão de quarto de hotel, deixei-me render ao cansaço e na fraqueza ignorei o apelo da cidade que transborda na noite.

Rebusco nos meus recantos e encontro razões para um sorriso.

Uma pequena homenagem à singeleza de algumas Mulheres em particular…


Maria Bethânia canta Terezinha de Chico Buarque

quarta-feira, 1 de abril de 2009

BiBó Porto Carago

Bou pó Porto um par de dias, lá tenho que me habituar aos cimbalinos e às tulipas, mas a gente boa compensa…


Rui Veloso e Vozes da Rádio-Porto Sentido