quarta-feira, 30 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 13 – (Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”)

Ainda não percebi se o nosso ex futuro ou futuro ex primeiro-ministro vai ter direito a fundo de desemprego ou se pelo facto de se ter demitido fica desamparado. Tenho esta veia solidária que me faz sentir como minhas as dores dos outros sobretudo quando a desgraça se abate em quem está desprevenido e pouco habilitado para a suportar e ultrapassar.

Digam o que disserem e o Português gosta mesmo de dizer mesmo que não tenha nada para dizer, o homem tem mérito e há muito injusto que não o reconhece mas o certo é que poucos souberam tão habilmente bater com a porta e se porem ao fresco quando o calor apertou e ainda manter a crista encrespada para poder afirmar que só não volto para lá se não me quiserem cá e que quem vier depois só pode fazer pior porque melhor ainda está para nascer.

O que é certo e sabido é que Portugal tem carências de reconhecimento e falta de se afirmar como marca por dentro e por fora e se por cá temos tantas dúvidas do que somos e do que somos capazes de fazer por lá nem nos conhecem e tantas vezes nos confundem na cultura e na geografia. Assumindo a velha máxima que não há má publicidade, nunca ninguém como o nosso futuro ex conseguiu pôr Portugal nas bocas do mundo.

Hoje qualquer europeu sabe onde é Portugal e sabe que somos capazes de fazer tremer a Europa com a nossa capacidade de sermos incapazes de nos bastarmos e de gastar mais do que produzimos e de produzir políticos de craveira que não se deixam intimidar com a sua pequenez e nunca mas nunca aceitarão capitular e assumir que não têm futuro mesmo que o próprio País que desgovernam já não o tenha.

Daqui a uns meses parece que vai haver eleições e parece que já estamos em campanha eleitoral ou se calhar nunca se deixou de estar e eu acho que calhando era bom para o povo que se adoptassem novos métodos de escolha porque a malta está um bocado farta de ser enganada e a mim ocorreu-me que era útil alinhar os candidatos de frente e de perfil numa daquelas filas de suspeitos que se vêem nos filmes, os tais suspeitos do costume e depois cada um passava e olhava bem para eles e ponderadamente escolhia: “eu acho que aquele ali, o terceiro a contar da esquerda, com a gravata às bolinhas e sorriso de vendedor de automóveis com ar de nunca ter sido apanhado a receber uma gorjeta é capaz de ser o menos mau”.

Em bom abono da verdade nestas eleições não se devia deixar gastar um tusto aos partidos porque o dinheiro faz-nos tanta falta para outras coisas e bem vistas essas coisas até se podia fazer um sorteio ou decidir quem vai ser o próximo primeiro ministro num conjunto de jogos de aptidão daqueles que a miudagem jogava no recreio da escola quando eu era miúdo, lembro-me de alguns lixados que puxavam bem pelo corpo e pelo espírito e a final de contas pelas amostras que se perfilam na corrida não me parece que nos faça muita diferença que a coisa seja decidida ao berlinde, ao pião, à corrida de carica ou ao lá-vai-alho…

Afonsinhos do Condado – Leva-me contigo

quarta-feira, 23 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 12 – (À dúzia é mais barato e ainda leva mais uma à borla porque é um rapaz simpático…)


Ainda não percebi se já toda a gente percebeu que nem todos percebem que estamos em crise. Eu não ter percebido é normal porque sou normalmente distraído já em relação aos outros já não sei bem se já não era hora de haver alguém avisado avisá-los que estamos mesmo em crise e que o dinheiro encolheu e os meses não e lá continuam com 30 ou 31 dias de calendário e que só o Fevereiro é que tem 10% de desconto em tempo se bem que no meu caso como trabalhei por dias contados bem me lixei e isso dito de uma outra forma que também acaba em i.

Ora se estamos de acordo que estamos em crise e que se calhar convinha haver cautela com supérfluos e outras coisa que até gostávamos de ter mas que se não tivermos paciência que não é por aí que o burro vai às couves ou às filhoses ou lá como se diz eu não percebo porque é que de repente se apela tanto e tão descaradamente ao consumo da coisa miúda. Bem sei que há uma guerra senhoras e senhoras, meninas e meninos entre as grandes superfícies que agora além de grandes também são médias e até pequenas mas nunca pequenitas mas a coisa já cansa, pelo menos eu canso-me que a idade também já não perdoa.

Ele é jingles e cantorias e mudanças e fusões e mais confusões de nomes e letreiros com palavrões e se há os que são verdes há outros que são vermelhões e os que puxam daqui e oferecem dali e promovem descontos imediatos ou para mais logo no talão ou no cartão e se dantes a malta era levada a invejar o vizinho por coisa grandiosa ou vistosa ou cheirosa agora vale tudo porque o que é preciso é que a malta compre e bendito seja quem postulou a propriedade comutativa da multiplicação que faz com que cem vezes uma seja quase tanto como uma vez cem.

Há que reconhecer que aqueles senhores não parvam pela inteligência e de saloia nada tem a sua esperteza porque grão a grão enche a galinha o papo e que um pouco mais que um bocadinho poucos reparam e que diabo muito mais que isso custa uma bica e um pastel de nata ou de feijão ou de outra qualquer região. Há que vender e não falta o que se venda e se não há inventa-se ou reinventa-se e o que era dantes uma coisa simples agora pode ser muito mais do que uma simples coisa bastando para isso dar-lhe mais cor mais sabor mais odor mais saber mais poder mais tempo mais portento e para isso paga-se apenas quase nada mais.

Eu compro, tu compras, ele compra e se nós compramos, vós quereis comprar e eles vendem. E é verdade que os tempos mudam e nós temos também que mudar com o tempo e nestes tempos de crise onde o desgoverno que parecia não saber ou querer governar se demitiu de vez da governação parece-me mais importante que nunca que o papel higiénico se possa comprar em cores fortes que condizem com os cortinados ou que tenha impresso motivos de design de acordo com o espírito de quem obra ou que a solvência do suporte se faça facilmente no remoinho da sanita e que seja ainda mais fofinho porque merda é o que não falta para limpar.

Mamonas assassinas - Mundo animal

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 11 – (Se eu soubesse o que sei hoje não me tinha baldado às aulas de surf…)

Não sei se é normal mas ao ouvir e ler e ver as noticias e as imagens do tsunami no Japão, lembrei-me do Godzilla e de toda a bicharada mitológica que vinha do mar para arrasar com os pés e o bafo, tudo e todos. Não sei se é normal mas fico com a sensação que se perguntarem ao nosso povo o que é que realmente acham da situação, haverão alguns que dirão que com o mal dos outros posso eu bem ou outros mais que acharão que lá é tão longe que não deverá chegar cá e de certeza que todos com excepção pensam que aquilo foi chato mas aquela malta é eficaz, trabalhadora, prevenida, organizada e bem capaz de lidar com a coisa e que tão depressa como cedo vai estar tudo outra vez direitinho e não haverá atrasos no lançamento da Nintendo 3DS ou da Playstation 4.

Temos pois para nós que se uma tragédia tem que acontecer que aconteça a quem esteja preparado para ela e que tenha meios depois para levantar a cabeça sem nos vir incomodar muito porque isto por cá também não se pode dizer que esteja famoso. Isso não quer dizer de forma alguma que encaremos a coisa com desprezo ou que nos falte piedade, muito pelo contrário, porque se há povo capaz de sentir as chagas de outro, esse povo é o povo Português mas na nossa visão tão ocidental e ingénua admiramos e invejamos aquela gente pela sua estoicidade e espírito de sacrifício e capacidade de transformar a adversidade em terreno de sementeira.

Eu lamento este desastre e receio que as réplicas à tragédia sejam muito maiores que apenas mais tremores e que se calhar os cenários pós-apocalípticos de Akira e tantas outras histórias que li na minha juventude, podem não ser assim tão ficção como imaginava mas não deixo de comparar o que ocorreu no Japão com o que tem vindo a ocorrer em Portugal. Se num caso temos um tremor repentino que origina uma onda gigante que se abate e varre um País deixando no seu caminho um rasto de destruição, no outro temos um solavanco constante que dura há décadas e que lentamente nos tem vindo a inundar e sufocar e a afogar, no final a diferença no comparar das desgraças não deverá ser assim tão grande, é tudo uma questão de timing.

A catástrofe do Japão tem um nome, a nossa tem muitos e quase todos impunes e auto-impolutos, se num lado só há a culpa da natureza no outro só há a natureza da culpa. Depois, somos ocidentais e pouco estóicos e pobres de espírito de sacrifício e já com pouca vontade de ainda levantar a cabeça mas ainda assim barafustamos e saímos à rua uma vez de vez em quando e regressamos a casa depois para poder dizer que também lá estivemos e tentamos encontrarmo-nos nas fotos e nas imagens dos jornais com a sensação do dever cumprido e voltamos à nossa vidinha porque mal ou bem lá se vai flutuando até sermos enterrados de vez na merda.

Por muito que eu quisesse olvidar a efeméride, sou picuinhas e pequenino no pensar e não consigo deixar passar a oportunidade de me oferecer para ministrar lições de golfe a quem queira usufruir da bondade do governo , sobretudo se forem lindas e esbeltas donzelas fraquinhas no Swing.

Black Company – Não sabe nadar

domingo, 13 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 10 – (Porque será que a Sra que fala no meu GPS ainda não me aceitou como amigo no FB?)

(Perguntas avulso que me foram comichando durante a semana…)


Porque é que não consigo ir à bola com aquele Sr. feio de óculos da SIC que parece que percebe tanto da dita?

Não faria sentido de uma vez por todas que um cartão de expulsão mostrado a um jogador do Benfica fosse Azul?

Porque é que as mulheres ainda precisam de um dia só para elas?

Será que o Mourinho também treina os guarda-costas?

Sempre se confirma que a Mercedes vai fabricar um Mourinhomobile?

Porque é que as mulheres ainda precisam de um dia só para elas?

Porque é que não fui convidado para a festa de lançamento de mais um período de pousio na presidência da Republica?

Será que marcaram o almoço da cerimónia de posse no navio escola Sagres para disfarçar o ar enjoado dos convidados?

Porque é que as mulheres ainda precisam de um dia só para elas?

Será que ninguém do governo se lembrou de pedir aos boys dos jobs para votar no festival da canção?

Será que o Primeiro-ministro se lembrou de votar no festival da canção?

Porque é que as mulheres ainda precisam de um dia só para elas?

O que é que falta para os alarmes que deveriam estar a soar aos ouvidos do Primeiro-ministro depois do resultado do festival da canção se tornarem ensurdecedores?

Será que o Primeiro-ministro já se lembrou de enviar um mail à amiga Merkel a avisar que vai mandar uma piada muito gira a Berlim?

Porque é que as mulheres ainda precisam de um dia só para elas?

Porque é que o Carnaval nunca mais acaba?

Porque é que acabaram com o limite de idade para entrar na geração à rasca?

Porque é que as mulheres ainda precisam de um dia só para elas?

Será que o primeiro-ministro também foi à manif. convidar a malta toda para jantar?

Porque é que as actualizações do Windows ainda não corrigiram o erro de já haver nenhum erro na frase: “Isto está tudo fodido…”

Já agora não seria tempo das mulheres não terem necessidade de um dia só para elas?

Sérgio Godinho- Só Neste País

terça-feira, 1 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 09 – (Um, dois, três, respira e abre e fecha e vira, um, dois, três…)

Porque o amor não se esgota de uma semana para a outra, um dia destes alguém chegou ao pé de mim e perguntou-me se eu me achava um daqueles gajos que têm a mania que sabem coisas que os outros não sabem ou um dos outros convencidos de ponta esquerda ou direita que sobre tudo pretendem alvitrar. Eu não respondi, porque sou envergonhado e quando confrontado com estas questões tenho o defeito de começar a rodar o pé direito sobre o calcanhar e o esquerdo sobre a biqueira e a revirar as sobrancelhas enquanto perscruto o horizonte em busca de aviões da Lufthansa que são aqueles com uma cegonha na cauda laranja sobre fundo azul ou azul sobre fundo laranja, nunca sei bem…

Na realidade no que toca a conhecimentos sobre coisas e assuntos diversos e mesmo informações de outros temas ou qualquer talento inato ou adquirido, eu sou uma besta assumida e só me safo se estiver a prelectar para malta que é mais besta do que eu, situação que nunca me lembro de ter acontecido depois de já ser crescidote e me terem nascido os pelinhos entre o nariz e o queixo ou porque procurei decorar previamente o que procurei encontrar previamente na internet. Na realidade o que eu tenho mesmo jeito para fazer é papaguear de modo consentido e com sentido e consigo fazê-lo tão facilmente com palavras escritas como faladas.

Alguns dirão que poderia ter sido vendedor ou politico ou porque não um pouco dos dois e se calhar até sou ou poderei vir a ser mas a verdade é que nos dias que vão correndo a verdadeira arte de parecer saber já não é o pensamento articulado sobre tópicos mas sim conseguir escarrapachar as perguntas certas nos motores de busca da net e depois copipastar e ainda enfiar uns floreados e uns adjectivos e dar a volta às frases para lhes dar um certo ar de je ne sais quoi que não sei bem o que é mas fica sempre bem e revela elegância.

Alguém disse que a coisa mais original que hoje em dia se pode fazer é saber esconder as fontes onde ninguém as consiga encontrar e as ideias boas devem ser guardadas num buraco sem fundo da nossa cabeça de onde só possam sair para serem concretizadas com lucro e reconhecimento. Não há amigo ou amante a quem se possam confiar ideias, não há sócio ou irmão a quem se possam confiar ideias, não há mentor ou discípulo a quem se possam confiar ideias e quem o fizer pois será boa pessoa ou talvez talvez otário e muito provavelmente rico de bens do espírito e pobre do resto. No final se calhar só o pecado foi original e tudo o resto uma admirável cópia e só para provar que consigo ser mete nojo e mostrar que tenho razão, fui à net roubar uma citação de um caramelo qualquer e vou pespegá-la aqui sem medos como se fosse minha e desafio o mais pintado a contestar a originalidade do feito: “Uma boa ideia é como a chama de um fósforo, se não sabemos o que fazer com ela rapidamente apaga-se ou queima-nos os dedos.”

Bem vistas as coisas tenho ideia de já ter visto todas as palavras deste texto algures mas como ignorante que sou não faço a mínima ideia de onde e o engraçado é que não me envergonho da minha ignorância, provavelmente para não começar a fazer aquelas coisas com os pés e a procurar aviões Alemães no céu ou então porque me estou borrifando que me vejam como o burro que sou e nada como um asno para reconhecer o seu semelhante.

Maria Clementina - Vou ser alguém