terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

I’m late, I’m late for a very important date


Tic tac tic tac tic tac. Passo o tempo a sentir o tempo a passar ou passo o tempo a querer que o tempo passe. A diferença entre o sentir e o querer não impede o tempo de passar.

Tic tac tic tac tic tac. Passo o tempo a querer ainda sentir ou passo o tempo a sentir ainda querer. Gostava de querer sentir a diferença de passar o tempo a sentir querer a indiferença do tempo passar.

Tic tac tic tac tic tac. Sinto-me já diferente porque o tempo passa e quero ainda ser indiferente por me passar o tempo. Ainda ontem era hoje e já hoje será amanhã.

Tic tac tic tac tic tac. Será ainda cedo ou já será tarde para passar o tempo a ver o tempo passar porque ainda ontem era cedo e já amanhã será tarde.

Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac. Tic tac tic tac tic tac.


Norah Jones-Chasing Pirates

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Boletim Informativo


Há muito tempo que não escrevo neste blog apenas pela obrigação de escrever. Raramente escrevi neste blog de forma explícita sobre a minha vida pessoal. Apenas aqueles que me conhecem pessoalmente encontram nas minhas palavras significados que são não mais do que abstracções semânticas.

Muito se tem falado ultimamente de liberdade de expressão e tenho visto que por vezes há quem invoque nos blogs essa liberdade de poderem dizer o que lhes vai na cabeça e que em nome dessa liberdade de expressão ninguém tem o direito de lhes tirar esse direito.

Ora bem, um blog não é um meio de informação público. Pelo menos este não o é. Aqui só há uma pessoa que tem total liberdade de expressão porque entendo este blog como a minha casa de palavras. Isso não quer dizer que pretenda fazer censura ou que não aceite quem me critique ou que me dêem opiniões, mesmo que essas não sejam as minhas, nada disso, mas reservo-me no entanto o direito de poder ter a última palavra.

Por aqui só havia uma pessoa que não era bem vinda, agora há duas e isso porque no passado dia 10 às 8h30 da manhã tive uma visita oriunda de uma empresa de crédito automóvel e que me visitou depois de ter recebido um mail calunioso a incentivá-la a vir aqui ler pretensos insultos. Ora a verdade só é insultuosa para quem não tem vergonha na cara e depois quando quiser insultar alguém, irei fazê-lo de forma clara e inequívoca e não omitindo as razões que me levam a fazê-lo e até pode ser que o faça um dia, mas não tenho nisso nenhum objectivo de vida.

À semelhança de muitos, este frio e outros afazeres tem-me mantido afastado de blogoesfera, mas este blog não vai fechar e espero em breve retomar a escrita regular de vários textos que tenho na cabeça, mas gostaria que de uma vez por todas que quem não gosta do que escrevo ou quem não gosta de mim e do que sou e do que represento, não ponha aqui os pés, nem aquela que não é bem vinda, nem a outra que vem para poder anuir ao fel. Façam lá o favor de ficarem no vosso canto de insignificância que eu ficarei no meu.


The Clash - London Calling

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Privilégio do Disparate – (IN)Mundanismos [5] – O ser Português (e)Dependente


Quem tem medo do lobo mau? Poucos terão coragem de admitir que depois de deixar de mijar na cama ainda tem medo do lobo mau, assim como poucos terão coragem de dizer em público que ainda tem medo da gripe que era dos porcos e depois virou quase histeria planetária de quem não tinha mais nada com que se chatear, muitos dirão que cautelas e caldinhos de galinha nunca fizeram mal a ninguém e que se não foi desta que o mundo acabou, será para a próxima e outros dirão que foi tudo uma negociata, como já ouve outras, há que aproveitar o medo da populaça de que o céu lhes pode cair em cima para vender vacinas e dar trabalho às gráficas a fazer panfletos e cartazes com regras básicas de higiene e que mal tem que de repente se possa ganhar muito dinheiro a vender gel mal cheiroso e dispensadores do mesmo que todos compraram como papo-secos.

Somos todos uns ingratos porque só sabemos criticar e há que louvar os que nos governam e tentam conduzir para um futuro brilhante como povo ingovernável que somos, porque tomou as medidas que tinha que tomar e que até apenas se limitou a fazer o que os outros países muito mais evoluídos que nós também fizeram e que agora até como brilhante negociador vai conseguir dispensar o excesso das vacinas que afinal já não precisamos e que ninguém venha dizer que para anular a encomenda só teremos que pagar um bocadinho a mais do que o lucro que quem as fabrica teria porque isso são só más-línguas e nunca se há-de provar, porque quem sabe só tem a perder se botar a boca no trombone.

Irrita-me este povo, mais ainda por me sentir tão parte dele, somos e eu também sou, muito maldizente, quase mesquinho e não tenho razões para me orgulhar. Por exemplo, gosto de dizer mal dos arrumadores de carros. E digo mal porquê? Não fazem eles um serviço que na maior parte das vezes não é mais do que me ameaçar sem palavras de que se não der a moedinha me arrisco a encontrar o carro devidamente autografado ou com o limpa pára-brisas velho que já não limpava porra nenhuma pronto a ser substituído por um novo que limpe melhor. Que mal tem que não haja um cantinho deste País onde caiba um carro que não tenha já alocado um tipo com mau aspecto a abanar os braços e estender a mão, ò tio não se arranja uma moedinha? E um cigarrinho? Sem querer exagerar e deixo aqui um desafio para quem gosta de contar e fazer estatísticas, não deve faltar muito para termos mais arrumadores do que carros e se calhar não era má ideia se as marcas de automóveis começassem a incluir como opção o dito e lá podia vir o carrito com bancos eléctricos, tecto de abrir, GPS e um arrumador já sem tomar banho há uma semana. Podiam até prever um espaço para o arrumar, agora que os carros já nem trazem pneu suplente, com jeito até se encaixava nem que fosse um arrumador pequenino.

Ora o que leva alguém a querer ser arrumador? As contingências da vida, muitos dirão, o desemprego e o desespero e as dependências de coisas menos licitas mas que os fazem felizes por um bocadinho e é desprezível da minha parte estar a ironizar com isto, porque quem escolhe ser arrumador não tem outra opção de vida e que a muitos até custa riscar carros. São arrumadores porque ninguém lhes dá outra possibilidade de dependência além das dependências que os condicionaram a ser dependentes e se houvesse vontade politica para acabar com os arrumadores bastaria pagar um subsídio que os compensasse da perda de rendimento e se há subsídios para tudo e se o Português aprendeu a viver de mão estendida e a conseguir dormir de cabeça erguida sem nenhum problema em ser dependente que mal tem mais um grupo de infortunados dependentes.

Uma moedinha aqui e outra ali e o dia está feito. Eu admiro o esforço enorme que aquela gente tem em fazer de tudo para não ter que se esforçar a fazer outra coisa. É de louvar o esforço que muitos se dão em arranjar mecanismos oportunistas de tirar partido das oportunidades mesmo que para isso tenham que viver o resto da vida sem poder agarrar as verdadeiras oportunidades da vida e eu até sei do que estou a falar.


Pink Martini- Je ne veux pas travailler