quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 06 – (Quem tratará das cáries da Boca do Inferno?)

Eu lembro-me que quando era pequenino e traquinas fartava-me de perguntar porquê e depois fiquei grande e traquinas e não me farto de perguntar porquê. Nesta minha incerteza de crescer e saber vou inquirindo e descobrindo que este Mundo pode ser redondo e revolver-se sobre si mesmo e rodar à volta das estrelas mas há coisas que nunca mudam ou que mudam tão devagarinho que só damos pela mudança quando ela deixa de ser evidente para ser permanente.

Aqui há dias percebi de maneira dolorosa que me tinha esquecido de mais uma data. Porque é que as mulheres não conseguem perceber de uma vez por todas que os homens não são geneticamente capazes de se lembrarem de uma data? Sempre que um homem diz a uma mulher com ar convencido e sorriso farsolas : “Querida estás a ver, não me esqueci que dia é hoje!”, está a mentir! Das duas três ou alguém o lembrou ou algo o lembrou ou alguma coisa o lembrou.

Eu sou tão distraído que me esqueço de arranjar alguém ou algo ou alguma coisa que me lembre do que não me devia esquecer e depois acabo por ter que enfrentar aquele olhar, aquela ironia, aquela forma tão particular e eficaz que as mulheres têm de fazer os homens gaguejar e não saber o que fazer às mãos. Se é genético que os homens não se lembram as mulheres não se esquecem e aprenderam desde sempre a tirar partido disso.

Eu sei que é suposto os homens serem diferentes das mulheres e eu aprecio isso de várias curvilíneas maneiras mas há realmente coisas que podiam ter sido evitados ou como se dizia no meu tempo de juventude: “Não havia necessidade…”, não havia necessidade de as mulheres terem certas capacidades que nos deixam a nós homens diminuídos pelos nossos defeitos naturais, não é justo, isto não é igualdade de géneros, é descriminação evolutiva ou divina conforme a crença e não me venham acusar de ter complexo de Calimero que eu não aceito, é uma injustiça é o que é!

Depois por coincidência ou talvez não, as mulheres inventam datas para tudo o lhes passa pela cabeça que tem que ser importante, para ela, para ele e sobretudo para eles: “Hoje faz um ano, dois meses e três dias que comemos uma fatia de bolo e bebemos uma água sem gás naquele café de esquina ao pé do banco e passou uma menina com um balão vermelho e meias às riscas laranja e verde e sorriu para nós, lembras-te querido?” Claro que não se lembra, mas se for esperto diz que sim e acrescenta: “Não eram riscas laranja eram Cor-de-Rosa!”, o que fará com que o debate se desvie para uma discussão sobre a incapacidade dele distinguir uma cor da outra, lugar de dialogo muito mais pacifico do que aquele para onde ela o queria levar quando começou a conversa.

Com certeza que aceito que há esquecimentos indesculpáveis e esses normalmente pagam-se caro, porque felizmente todas as mulheres têm o seu preço e não estou a querer ser ordinário, antes pelo contrário, quero apenas dizer que as mulheres são enormemente capazes de perdoar desde que o homem consiga perceber ou adivinhar, a forma certa de lhes pedir desculpa. Aliás se os homens fossem seres avisados, quando começam uma relação, a primeira coisa, mas mesmo a primeira coisa que deviam tentar perceber sobre ela é o que é que a consegue demover, derreter, deslocar, desmanchar, desarticular ou desencaixar das suas intenções de lhes torcer o pescoço ou deixar a pão e água a vegetar no sofá até ao final do Verão.

O que ainda não percebi é se as mulheres não preferem às vezes que os homens se esqueçam das coisas para lhes poderem mostrar que são uns vermes insensíveis que não lhes dão importância nenhuma e que não se preocupam com nada do que lhes é importante e que se calhar o melhor era que aquilo nunca tivesse acontecido porque assim ela também já não precisava de se lembrar. Entretanto com esta conversa lembrei-me que hoje me devo de ter esquecido de alguma coisa, estou lixado!


Deolinda - Um Contra O Outro

1 comentário:

Phoebe disse...

Gotas...Há que tomar gotas!