terça-feira, 1 de março de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 09 – (Um, dois, três, respira e abre e fecha e vira, um, dois, três…)

Porque o amor não se esgota de uma semana para a outra, um dia destes alguém chegou ao pé de mim e perguntou-me se eu me achava um daqueles gajos que têm a mania que sabem coisas que os outros não sabem ou um dos outros convencidos de ponta esquerda ou direita que sobre tudo pretendem alvitrar. Eu não respondi, porque sou envergonhado e quando confrontado com estas questões tenho o defeito de começar a rodar o pé direito sobre o calcanhar e o esquerdo sobre a biqueira e a revirar as sobrancelhas enquanto perscruto o horizonte em busca de aviões da Lufthansa que são aqueles com uma cegonha na cauda laranja sobre fundo azul ou azul sobre fundo laranja, nunca sei bem…

Na realidade no que toca a conhecimentos sobre coisas e assuntos diversos e mesmo informações de outros temas ou qualquer talento inato ou adquirido, eu sou uma besta assumida e só me safo se estiver a prelectar para malta que é mais besta do que eu, situação que nunca me lembro de ter acontecido depois de já ser crescidote e me terem nascido os pelinhos entre o nariz e o queixo ou porque procurei decorar previamente o que procurei encontrar previamente na internet. Na realidade o que eu tenho mesmo jeito para fazer é papaguear de modo consentido e com sentido e consigo fazê-lo tão facilmente com palavras escritas como faladas.

Alguns dirão que poderia ter sido vendedor ou politico ou porque não um pouco dos dois e se calhar até sou ou poderei vir a ser mas a verdade é que nos dias que vão correndo a verdadeira arte de parecer saber já não é o pensamento articulado sobre tópicos mas sim conseguir escarrapachar as perguntas certas nos motores de busca da net e depois copipastar e ainda enfiar uns floreados e uns adjectivos e dar a volta às frases para lhes dar um certo ar de je ne sais quoi que não sei bem o que é mas fica sempre bem e revela elegância.

Alguém disse que a coisa mais original que hoje em dia se pode fazer é saber esconder as fontes onde ninguém as consiga encontrar e as ideias boas devem ser guardadas num buraco sem fundo da nossa cabeça de onde só possam sair para serem concretizadas com lucro e reconhecimento. Não há amigo ou amante a quem se possam confiar ideias, não há sócio ou irmão a quem se possam confiar ideias, não há mentor ou discípulo a quem se possam confiar ideias e quem o fizer pois será boa pessoa ou talvez talvez otário e muito provavelmente rico de bens do espírito e pobre do resto. No final se calhar só o pecado foi original e tudo o resto uma admirável cópia e só para provar que consigo ser mete nojo e mostrar que tenho razão, fui à net roubar uma citação de um caramelo qualquer e vou pespegá-la aqui sem medos como se fosse minha e desafio o mais pintado a contestar a originalidade do feito: “Uma boa ideia é como a chama de um fósforo, se não sabemos o que fazer com ela rapidamente apaga-se ou queima-nos os dedos.”

Bem vistas as coisas tenho ideia de já ter visto todas as palavras deste texto algures mas como ignorante que sou não faço a mínima ideia de onde e o engraçado é que não me envergonho da minha ignorância, provavelmente para não começar a fazer aquelas coisas com os pés e a procurar aviões Alemães no céu ou então porque me estou borrifando que me vejam como o burro que sou e nada como um asno para reconhecer o seu semelhante.

Maria Clementina - Vou ser alguém

1 comentário:

Storyteller disse...

Olha que coisas tão acertadas que te disseram nos últimos tempos! Refiro-me, evidentemente, ao início do 4.º parágrafo.
Mas quem é o idiota que partilha as suas ideias com o mundo exterior quando elas ainda não passam mesmo disso, de ideias?

Já agora... o logo da Lufthansa é um grou (e não uma cegonha) azul inscrito num círculo amarelo sobre fundo azul.

***