Aproximo lentamente os meus lábios dos seus. A aproximação dura o momento de uma eternidade que se estende para além da compreensão do tempo e quando o toque acontece imagino que todos os pássaros do mundo pararam de bater as asas suspensos apenas na definição de uma película fotográfica que se revela em mim. Envolvo o seu lábio inferior nos meus partilhando a dádiva de uma suave humidade e depois os meus lábios estão dentro dos seus e os seus dentro dos meus e as nossas línguas ganham vida própria numa valsa dançada sem regras. O beijo é uma onda que avança no nosso mar de desejo e que no seu espraiar nos nivela as dunas de qualquer dúvida, juntam-se na dança dois pares de mãos em carícias sobre o que ainda não é pele e ambos sentimos que queremos que seja pele e de uma forma natural estamos nus sentados sobre a cama, os troncos colados envolvidos em abraço e há apenas uma boca que entre as duas respira o mesmo ar afogado num sufoco urgente de paixão.
Olhamo-nos agora sem beijo, ambos sabemos que já não podemos parar e que seremos apenas corpos sem vontade ao sabor da vontade do tesão tenso que nos aura da pele e ela deixa-se cair puxando-me para cima de si e eu encaixo-me entre as suas coxas e procuro encontrar o caminho guiado pela sua humidade que se funde e atrai a minha e a penetração acontece sem dor e a cada milímetro que entro dentro dela sinto-me mais parte de um corpo que é agora uma extensão do meu. Ouço o seu suspiro, a brisa do seu respirar e a pressão do seu interior e oscilo suavemente os quadris no receio de entrar numa espiral sem controlo e cadencio o ritmo tentando concentrar-me apenas no prazer que lhe vejo nos olhos e sinto as suas mãos apertarem-me as nádegas que empurra com força fazendo-me entrar ainda mais no seu calor e a sua respiração acelera e foge-lhe dos lábios um misto de som significado sem significação e os olhos perdem-se e pressinto a urgência do seu orgasmo e pressiono-me até ao fim contraindo o sexo até sentir o derramar do êxtase que lhe confirmo no olhar e saboreio a acalmia que agora lhe irradia do corpo mas eu não quero parar e ela sorri e volta a puxar-me para si e incentiva-me a acelerar o ritmo, diz-me sem palavras que agora vai esperar por mim e espera e acabamos inertes esvaídos num beijo com outro sabor.
Estamos agora deitados lado a lado e falamos da inconsciência que nos tomou e sossega-me porque não corre o risco de engravidar e que está pura de doenças por castidade e eu digo-lhe o mesmo com a certeza de que não acredita nas minhas palavras e vejo que as lágrimas lhe invadem os olhos e pergunto-lhe se está arrependida e diz-me que não, que não ligue e que está feliz mas que não pode deixar de antecipar um sentimento de eminente abandono e chamo-lhe tonta e puxo-a para mim num outro beijo e no desejo de partilhar de novo o seu suor e desta vez é ela que se penetra em mim e que se cadencia nos movimentos que lhe fazem oscilar os seios que acaricio e que lhe beijo alternadamente, sou controlado pelo seu cavalgar, espectador privilegiado do acontecimento do seu prazer, demasiado excitado para a acompanhar vejo-a atingir os seus cumes uma e outra vez.
Sai de mim saciada e devora-me com um beijo, os peitos erectos que se roçam nos meus e sinto a sua mão que se aperta no meu sexo e sorri-me com um brilho traquinas no olhar e procura-me entre as pernas e toma-me na sua boca e do resto apenas me resta uma memória rendida.
Procurava a música ideal para este post, quando num comentário a minha amiga Storyteller a simpática miúda que tem um carro lindo decidiu deixar-me uns versos de uma canção do Angelo Badalamenti, ignorante e curioso e totalmente devoto à santa Laura Palmer fui à procura e foi paixão ao primeiro acorde, por favor ponham a música a tocar e releiam o texto. Não tenho palavras para te agradecer querida amiga…
Tim Booth and Angelo Badalamenti - Fall in Love With Me