quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Privilégio do Disparate – A caminho do fim do Mundo – Semana 07 – (Não sei bem a que horas passa o autocarro, se calhar o melhor é ir de metro)


Se o amor fosse fogo que arde sem se ver seria um perigo público e proibido por muitas bulas e leis e quem ousasse amar teria à perna os bombeiros a protecção civil, a ASAE, a GNR, a PSP e meia dúzia de empresas fiscalizadoras geridas por amigos do governo.

Sou um agnóstico militante e um céptico moderado e um desconfiado por amamentação e no que toca ao amor um pouco de tudo e de nada. Já tanto se falou e escreveu e encenou e cantou sobre o amor que se torna difícil escrever qualquer novo disparate sobre o tema. Há quem diga que é causa, há quem diga que é razão e há até quem diga que é fodido e eu acho bem que seja senão não teria graça nenhuma.

Muitos são os que professam que não se consegue viver sem amor e muitos são os que professam que o verdadeiro amor é o deles, seja a um homem, a uma mulher, à imagem que vêm no espelho, ao sangue do seu sangue ou ao sangue de um Deus, à raça de um clube, à ideologia de uma politica ou a qualquer outra coisa maior ou menor. Muitos dizem-se completos na presença do seu amor e lamentam a desgraça de quem não consegue amar como eles. Muitos são os que professam que o amor não é mais que uma boa ferramenta de marketing, um produto com venda garantida, um devaneio de poeta, uma arma de controlo de massas, um sentimento inodoro, incolor, indistinto ou uma quimera que se procura de olhos abertos. Muitos dizem-se completos na abstinência do amor e lamentam a desgraça de quem não consegue deixar de o procurar como eles. Sendo um agnóstico, céptico e desconfiado não vou pelas profecias de muitos e não reconheço legitimidade a quem ousa dizer que sou infeliz por não amar o mesmo e não reconheço legitimidade a quem ousa dizer que sou infeliz por não engavetar o amor naquela gaveta, se bem que nenhuma nem ambas das ilegitimidades me tem feito mais feliz ou infeliz. Na realidade o amor não me incomoda e eu deixo-o andar por aí.

Se muito se fala de amor a medo se fala de paixão, esta um contraponto efémero do outro que se supõe eterno enquanto vai durando. A paixão está para o amor como o aquecimento de um carro está para uma lareira. Na paixão há sexo e fome e sede e vontade, no amor às vezes também. A paixão pode ser um impulso e o amor pode ser um refluxo. A paixão pode ser uma refeição ligeira ou de muitos pratos num restaurante qualquer e o amor vai-se comendo… quase sempre na mesma mesa. Há quem prefira uma boa paixão a um grande amor, eu sou agnóstico, céptico e desconfiado e vou vivendo um dia de cada vez, todos os dias.

Mler Ife Dada - L'Amour Va Bien, Merci

3 comentários:

mac disse...

gosto

Storyteller disse...

Dizem que amor com amor se paga. Eu reformulo: ausências com ausências se pagam. Não vais lá, não venho aqui. Birra? Claro! Tenho idade para isso, ora...

Paixão... já tive muitas. Umas assolapadas (como a que tenho pelo senhor que dança de uma forma estranha - mas única! - em palco), outras passageiras (como a que tive pelo cão de orelhas compridas que estava outro dia à porta do Pingo Doce). Umas para sempre lembradas (onde andas tu, Tó dos olhos verdes dos meus 9 anos?), outras para sempre esquecidas (como raio se chamava o livro que tinha uma capa toda gira que vi na FNAC na 3ª feira de há duas semanas?).

Viver um dia de cada vez parece-me ajuizado da tua parte, até porque com os dias que correm, mais vale prevenir que remediar!

Belheque!

MJ Pratt disse...

Meu querido amigo virtual,
tenho andado por outras paragens, fazendo juz ao meu nome e à fama que lhe associam.
As tuas palavras não perderam o encanto e continuam a fazer-me viajar, parando de quando em vez para apreciá-las devidamente, apreendê-las e agarrarem-se à minha alma deambulante.
Um beijinho.