Se há coisa que o nosso povo gosta é de adiar problemas. Porque é que a malta se há-de chatear antes se é inevitável que se vai chatear depois e depois até pode ser que a coisa não corra tão mal quanto parecia que ia correr. Entretanto vai-se vivendo.
Aqui há uns meses quando foi necessário inventar um orçamento para 2011, os nossos sacrossantos governantes anunciaram medidas duras e que havia chegado o tempo de ter que apertar o cinto e aliviar o peso à carteira e cortar no prescindível e redefinir o imprescindível e que haveria reduções de salários e aumento de impostos e que não era possível garantir escândalos e mexericos que distraíssem o povo todos os dias mas que prometiam fazer o que pudessem. Entretanto veio o Natal e penduraram-se bolinhas nas árvores.
Chegámos a 2011 com cautelas, alguns foguetes e muita malta deixou de fumar por uns dias e começou a haver menos transito nas ruas antes do meio do mês. Eu lembro-me que quando comprei o meu primeiro carro, ainda com muito cabelo na cabeça e barba revolucionária, punha sempre quinhentos paus de gasolina e aquilo dava para o que desse e se desse para cada vez menos, paciência, porque o que sobrava na carteira não dava para mais e ainda não haviam cartões de crédito nem empréstimos para comprar bimbys. Mas parece que finalmente a enorme veia ecológica e responsabilidade civil das nossas gasolineiras e até alguma vontade de ter lucro de forma obscena teve o seu resultado na redução da marca de carbono no alcatrão das auto-estradas.
Penso eu que toda a gente sabe que os funcionários públicos recebem antes de toda a gente e se calhar nem toda a gente sabe porquê mas eu sempre achei que era para ajudar o pequeno comercio e os funcionários públicos perceberam pela primeira vez na semana passada o que é que receberam de salário e finalmente perceberam o que o desgoverno do governo implica no governo do seu próprio desgoverno.
Se há coisa que o nosso povo gosta é de adiar problemas e quando estes definitivamente aparecem de os resolver de forma simples e concisa e se lhe cortam dez porcento no salário então passam a trabalhar menos quinze porcento por conta da inflação e do aumento que mereciam e que agora nunca vão ter. Somos um povo que a faz pela calada e que se manifesta de forma silenciosa e eficaz e que faz do zelo a sua arma. Pois que se espere nas filas das repartições e nas filas dos hospitais e que se entupa ainda mais a nossa já tão fluida justiça porque ou há justiça ou comem todos e não seria justo que apenas os que vivem do estado e para o estado tivessem que pagar a crise.
Não quero de forma alguma que esta minha prosa ponha em causa o profissionalismo da nossa gente e cada qual sabe de si e que se calhar só mesmo quando se começar a morrer nos bancos de urgência dos hospitais por excesso de zelo se vai perceber que algo vai mesmo mal neste bananal e que a procissão nem chegou ao adro e que ainda não se percebeu bem o impacto dos aumentos dos impostos e que o sobreendividamento das famílias tanto é sobre por pouco como por muito e que entretanto virá outra vez o natal e a oportunidade de pendurar bolinhas na árvore.
Mas o governo cumpre as suas promessas e se temos os aumentos e as reduções também temos os entreténs com crimes e sexo e violência e relações supostamente pecaminosas que só deviam importar a quem realmente importam e ainda o tal nome da criança que ninguém percebe e que eu não percebo como foi possível registar com tanta regra e burocracia a não ser claro que se explique por ser filha de gente importante para resolver todos os problemas do País ou porque o pessoal das conservatórias tem uma forma engraçada e peculiar de protestar contra a crise.
MLER IFE DADA - Zuvi Zeva Novi
2 comentários:
Deixa-me adivinhar... não foste votar, pois não? ;P
Quanto às tuas palavras... não as comento por uma razão: a crónica falta de euros na minha carteira e - pior! - na minha conta bancária impede-me de ter discernimento, isenção e agilidade mental para verbalizar os meus sentimentos relativamente a este assunto.
Baci***
Eu vinha comentar mas cheguei à conclusão que não tenho nada a acrescentar.
Disseste tudo e muito bem, para variar ;)
Beijocas*
Enviar um comentário