quinta-feira, 30 de abril de 2009

Floresta



Eu hoje caminhei nu na submissão da ausência.

Fui transportado por um fio de vento a um lugar vazio de memórias e de tempo, senti nas palmas dos pés o veludo fresco do musgo e bebi do cheiro do verde até à transfiguração da carne em casca, dos membros em tronco e do que me sobrou de pele em folhas de livre forma. Sou arvore no ponto de vista da floresta.

Calei a minha voz no burburinho do silêncio, sequei a minha seiva na cristalização da aparência, estou sem ali estar, sem porem nem vez abarco a compreensão da incompreensão ou a aceitação da irrelevância e oculto na sombra o brilho que nunca foi mais que um mero reflexo.

Agora deixei de ser percebido e sou o que sempre soube ser, uma arvore a mais na floresta, invisível e indistinto.
The Cure-A Forest

8 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Não és uma árvore a mais na floresta. És AQUELA árvore que mais ninguém pode ser...

Abraço-te ****

CB disse...

LBJ, todas as árvores da floresta são árvores e são floresta. Tu és árvore para a floresta, a floresta é mundo para ti. Tens existência e fazes existir. Não és invisível, nem indistinto. Porque tu és uma única árvore - mas única na floresta, que não era a mesma sem ti.
E depois... tu és Fénix... brilhas tanto e espalhas tanto brilho nessa sobra que projectas!

mf disse...

Cada árvore tem o seu lugar e sem ela a floresta não seria igual...

LBJ disse...

Daniel, Princesa, Hedgie,

Como na essência disseram a mesma coisa, o comentário é para os três.

Umas vezes somos a arvore, umas vezes somos a floresta, uma vezes somos a maior arvore da floresta e distinguimo-nos por isso, outras somos apenas e somente a arvore insignificante e indistinta.

Um post é um snapshot emocional, reflecte um momento, este texto parece, é um instante de insatisfação, quando o comecei a escrever tinha um destino que alterei porque me quis purgar de uma emoção, uma ejaculação de angustia que como todas as outras se extingue em deflação.

Os meus posts são o acasalar de som e texto, umas vezes é o som que se enquadra no texto outras é o contrário, neste caso acabou por assim ser e se ouvirem o ultimo verso da musica e eu apercebi-me depois de escrever o texto, encaixam-se todos os sentidos e confesso que gostei bastante do resultado final:

Suddenly I stop
But I know it's too late
I'm lost in a forest
All alone
The girl was never there
It's always the same
I'm running towards nothing
Again and again and again and again

Pronúncia disse...

LBJ, uma árvore nunca se perde na floresta! Ela faz parte da floresta, independentemente do seu porte e da sua espécie!

Bom feriado e bom fim de semana :)

Ana GG disse...

És com toda a certeza uma árvore fantástica no meio da floresta, nem muito pequena, nem muito grande...invisível para alguns e ofuscante para outros.

Nunca chegaremos a saber quais os olhos que nos vêem, raramente conseguimos acertar com os olhos por quem queremos ser vistos. Mas quando, raramente, acertamos e deixamos de ser invisíveis é uma alegria desmedida, uma alegria sem palavras que a descrevam.

Provavelmente hoje já te sentes uma árvore visível, eu é que me atrasei a comentar.

Posso dar-te um beijo?

LBJ disse...

Pronúncia,

Eu acho o contrário, acho que todas as arvores estão perdidas na floresta, é esse o seu mistério, a sua atracção e o seu encanto.

Muito obrigado, tentarei dentro do possível que seja e claro retribuo com carinho :)

LBJ disse...

Ana,

Até o brilho da nossa Lua é um reflexo, o nosso brilho também o é e neste caso reflecte os olhos de quem nos consegue ver para alem do olhar e tens razão traz-me uma alegria desmedida:)

Aceito o teu beijo, na condição de o poder retribuir?