quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Privilégio do Disparate - Oitavo Henrique que gostava de mulheres em peças separadas teórico protestante reformista de vontade reinante


Uma vez na vida, gostava de não ter que estar dentro da minha cabeça. É que isto é muito povoado, habita por aqui muita bicharada e a coisa piora no período de “Happy Hour”, que ainda por cima não têm hora marcada, pode ser agora ou daqui a nada ou mesmo depois ou já ter passado, durar tão pouco tempo que por pouco não se aproveita ou dar para tirar a barriga de misérias, porque por aqui a “Happy Hour”, não tem regras, nem limites de consumo, carrega-se o que se pode, aceita-se qualquer tipo de garantia bancária, fia-se, até se aceita American Express, que é aquele plástico de crédito, que poucos aceitam, cheques refeição, selos de correio e ainda moedas europeias que tenham saído de circulação, pode-se até trocar favores e mandar assentar na conta.

Uma vez na vida, gostava de não ter que conviver com os dois loucos que por vezes se põem a dialogar entre si monólogos de situações mundanas e a fazer apostas sobre quem irá tropeçar primeiro na conjunção racional de um treçolho e depois há o outro completamente passado da chifradura, que só cá vem de vez em quando tomar banho e fazer perguntas sobre as coisas que não foram, as que agora não são porque ninguém lhe liga e sobre o futuro que será inevitavelmente negro, se é que se pode falar sobre futuro, porque nunca havemos de lá chegar ou se chegarmos será com dor, daquela que se pressente quando puxamos com força os pelinhos dos testículos.

Uma vez na vida, gostava de não ter que conviver com este inseguro que está sempre a olhar pelo canto do olho, habituado que foi a entender que se desmonta já não consegue montar e que nunca fez nada de proveitoso, nem articula, nem tem jeito nenhum para empilhar palavras, homem que apenas perde tempo com coisas que ninguém há-de perceber ou apreciar e que é mais feio do que um moinho de vento saído ao caminho de cavaleiro de rocinante.

Uma vez na vida, gostava de não ter que conviver com aquele preguiçoso que deixa para depois o que não deveria pensar em fazer amanhã e que não sabe o que quer porque não quer saber de querer ou quer agora o que sabe não querer depois ou depois se tudo correr bem é capaz de ainda vir a pensar em querer qualquer coisa que é melhor não querer agora porque se pode arrepender.

Uma vez na vida, gostava de não ter que conviver com este que se apaixona facilmente e que gosta de lugares mais prazenteiros, pontos ensolarados, adros de riso, ambientes fresquinhos e floridos, praias em dias ameno outonal, sardinha assada e torresmos soltos, doçarias conventuais ou qualquer coisa que leve ovos e açúcar e sorrisos de crianças e mulheres e de gatos e de cães e de peixes em aquário ou escalados só com sal e de marisco, desde que não sejam ostras e de mulheres que lhe sorriam e de bons filmes e música de ruído bom ou melhor entoada e de mulheres que lhe sorriam que gostem de partilhar alegria e bons filmes e boa música e dançar e rir e conversar e outras traquinices.

Uma vez na vida, gostava de não ter que conviver com o racional que teme e que se preocupa tanto que se esquece de que há prazos de validade e que a lei apenas obriga a dois anos de garantia. Que não se lembra que a vida se consome como um fósforo se não houver a coragem de meter a mão na chama.

Uma vez na vida, gostava de não ser eu ou se calhar uma vez na vida gostava de não gostar de não ser eu.


Talking Heads-Once in a life time

19 comentários:

forteifeio disse...

Bela escolha musical,

Isto foi escrito por uma amiga dos blogues:
Saberias apreciar homens cheirosos se não houvesse ranhosos? Com que grandeza viverias as alegrias desta vida, se a certeza não tivesses que um dia morrerias? Que força teria um amor se a ele não estivesse associada uma certa dose de dor?


"Porque meus amigos, se não fossem os antipáticos, mal cheirosos que empestam o nosso caminho, as bestas aos encontrões, as víboras a fazerem ninho, se de vez em quando não te fodessem o dia, se nunca recebesses uma notícia má ou nunca tivesses sido traída…como? Como é que darias valor a todo este sabor? "

Isto foi escrito por uma amiga dos blogues daqui:

http://inconstante-difrente.blogspot.com/2009/05/obrigada.html

Pensa nisso

Pronúncia disse...

Depois do que o Forte disse, não acrescento mais nada, sob pena de estragar... vou sair de mansinho :)

Um beijo

Ana GG disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana GG disse...

O Forte, pelas palavras da Inconstante, disse praticamente tudo...
Se não fosse tudo isso, "como darias valor a todo este sabor?"

Um beijo grande e um sorriso ainda maior.

PS. Cá te espero brevemente!

1REZ3 disse...

Eu bem que estava a ler a mensagem do forte e estava a reconhecê-la.

E como as duas senhoras, muito pouco haverá a acrescentar a não ser a descrição deste meu gesto de quem se curva perante a percepção da excelência escrita e criativa. Bem-hajas, LBJ :)

Não sei ainda porquê, mas, tudo de bom para ti.

Fada disse...

Ena, tanta gente por aí!!! Convives com pessoas muito peculiares...ehehehe

O que eu gostei mais foi deste: "este que se apaixona facilmente e que gosta de lugares mais prazenteiros, pontos ensolarados..." :D

Acredito que esta gente toda junta possa ser cansativo. Acredito que será aquele que alimentares mais e melhor que sobressairá entre todos. Acredito que o conjunto seja melhor que apenas um.
É tudo uma questão de equilíbrio entre as partes e de se dar mais enfase em determinadas épocas àquele que melhor se adaptar às situações.
Digo eu, que sou parte fada, parte humana, parte mística, parte malagueta, entre outras partes que vou revelando sem nomear. :D

Beijitos e boa noite! :)

LBJ disse...

Forte,

Deixa ver se eu percebo... Tu achas que eu sou ranhoso, antipático, mal cheiroso, besta, para não falar de outros adjectivos que se podem deduzir e que ainda bem que sou assim porque pelo menos sirvo de bitola de comparação e pode o mundo apreciar os que não são como eu?

ò Pá o que vale é que eu te percebo e claro que agradeço o intuito da tua mensagem, sabes que estes textos são escritos em roda livre, com uma pontinha de inspiração e deixa correr, nunca corrijo uma virgula e faço questão de os escrever no inicio de um cigarro e acabar antes de ter vontade de acender outro, por isso não são só estados de espírito, embora alguma da bicharada que descrevi de vez em quando passa por aqui sim, mas na maior parte das vezes sou lavadinho :)

Passei pelo blog da tua amiga e gostei, vê lá que me fizeste descobrir uma escrita interessante, :)

Um Abraço amigo

LBJ disse...

Pronúncia,

Sai de mansinho, mas antes vai ler a resposta que dei ao Forte, amiga... ;)

Um Beijo

LBJ disse...

Ana,

A ti o que te safa é o sorriso que sabes que eu valorizo em moeda corrente :)

Não vais esperar muito ;)

Um Beijo

LBJ disse...

Treze,

A ti perdoo porque ir na conversa das senhoras é sempre de bom tom, ainda por cima destas duas que aqui que ninguém nos ouve são mesmo uns amores, mas não lhes digas mesmo, senão elas ficam convencidas :)

Bem haja a ti que me reconheces esse talento e faz tão bem à alma, nestes tempos de tormenta uma palmadinha sincera nas costas.

Abraço

LBJ disse...

Fada,

Ora ai está, é bom ter esta gente sempre à mão quando dá jeito ;)

O equilibrio é percário, mas vai-se conseguindo.

Por falar em malagueta, ainda não te agradeci o voto de confiança,aqui fica o meu OBRIGADO, em público para não haver dúvidas ;)

Beijo

Ana GG disse...

Porque és um "gajo" inteligente sabes muito bem ao que nos referiamos...
São os tantos "não gosto de mim às vezes" que te possibilitam os "gosto tanto de mim hoje".

Pareces ser um tipo lavadinho sim senhor. Eheheheh

Juízo nessa cabecinha LBJ. Hoje, o dia promete ser melhor do que ontem, digo eu que sei destas coisas...
;)

Light Princess disse...

Se eu me deitasse a escrever um texto destes, acho que nunca acabaria, tantas são as que reconheço dentro de mim.
A umas vou ganhando afecto, a outras finjo por vezes não escutar a voz. No fundo, são essas as que realçam a importância das outras, as que indicam as que devo fortalecer.
Somos todos um pouco assim, ou é imaginação minha?
Contrastes. A tal luz e sombra (não vivem uma sem a outra, já reparaste?). Também as vejo em ti.

A gente caminha, tropeça, cai e aprende. Aos poucos. Mas ganha-se terreno, devagar, a nós mesmos. E ganha-se limites àquilo que não queremos (até em nós!)

Beijo

Inconstante disse...

olá menino jesus.
e se uma vez na vida não estivesses aí, já pensaste na falta alucinante que esses seres te fariam - ahhh! se calhar é isso...queres sentir a falta, para lhes voltares a dar o devido valor ;-) beijos
obrigada pela visita e palavras...são tão boas

Ana disse...

Pensei q ias falar do oitavo, pah! tb gostas das mulheres aos pedacinhos, querem ver... ;)

Algumas vezes me disseste que te apercebias de certas coisas que poderiam estar a passar deste lado do monitor. Vejo agora, com este texto, como percebes, e bem (não te conheço ainda assim tão bem, né? ;D), qual é o sentimento (ou os sentimentos) que prevalece. Ás vezes, era tão bom ter um botão ON/OFF, não era?...

Gostei muito do texto. E, lógico, revi-me em muitas das tuas facetas. :) Exceptuando na do me apaixonar facilmente :D Ficar com uma paixão de caixão à cova, talvez, ter uma tempestade de hormonas, idem. Apaixonar no sentido de amar, era raro. Só se sabe o que é amar qd se ama. ;-) e cada um ama à sua maneira.

Tb gosto de locais ensolarados! Qto mais luz natural, melhor! Não suporto estar fechada numa sala com luz artificial!
Não significando isto que deteste a noite, não. Há lugar para tudo, para o dia, para a noite. Mas os dias encobertos e as luzes artificiais atrofiam-me...;-)

Espero que depois dessa tempestade venha a bonança. Vem sempre, acredita. E deixa-nos mais fortes. :)

LBJ disse...

Ana,

Sei sim os amigos que aqui tenho :)

Um Beijo

LBJ disse...

Luz,

Aprende, mas as dores e as cicatrizes vão ficando, algumas mais fundas que outras.

LBJ disse...

Inconstante,

Bem vinda :)

Alguns fazem falta, outros não deixariam muitas saudades :)

Um Beijo

LBJ disse...

Vani,

Imagino sim o que sentes.

A tempestade teima em não passar, se é que alguma vez passará, às vezes penso que não, hoje é um desses dias.

Um Beijo