Antecipo a necessidade de dizer adeus a partes importantes da minha vida e vagueio em pensamentos de como o vou fazer, de que forma marcarei aqueles momentos se tiver mesmo que os concretizar em palavras.
O adeus é definitivo apenas quando se concretiza em cerimonia fúnebre, noutras formas pode ser apenas uma pausa de sentidos, um virar de esquina sem afastares de horizontes ou um ultrapassar de incómodos, situações que se resolvem, rasgos de velhas cartas salpicadas de bolor e de fotos esquecidas na paisagem.
Quando um adeus é de dor, deixa um amargo na boca e na alma, puxa-nos a tristeza na antecipação da saudade, do recordar de um tempo que se passou e que resta na memória, partimos com vontade de ficar, ali, aqui, mais um bocadinho, arrastando os pés, como se a nossa lentidão de ir invertesse o sentido do futuro em direcção ao passado.
Quando um adeus é de rancor, deixa um alivio no desejo que a mudança nos traga a paz esperançada ou um novo caminho ou uma nova possibilidade de outras escolhas, a troca de ausências por reservas de preenchimento e queremos ir sem olhar para trás, sem querer a cristalização das lágrimas em sal.
Mas um adeus é um adeus, um acto inevitável de quebra, um acto de génese triste ancorado no passado, seja ele uma memória que se quer feliz ou fugaz.
26 comentários:
LBJ, pensa sempre como o título da canção dos Smashing Pumpkins...
The Beginning is The End is The Beginning
Fica bem :)
Não gosto de "adeuses"... :(
Nem quando sou eu a partir porque tem mesmo de ser. :(
Beijitos
Tomar a decisão de romper é sempre mais dificil que o próprio adeus. Este ato final, qdo se faz necessário, é sinal de que o fim já aconteceu. Mas às vezes dói, né?
***
Excelentes os seus textos, moço! Li vários e me apaixonei!
Vc tem razão. As diferenças culturas só nos acrescentam!
Beijos
Pronúncia,
Bom titulo, excelente filosofia :)
Fico, beijinho
Fada,
Às vezes é mesmo necessário cravar um adeus no tempo.
Beijos
Euza,
Bem vinda, dói e às vezes muito.
Não me chamavam moço há tanto tempo, que delicia :)
Volta mais vezes, gosto muito da forma como cantas o teu escrever :)
Beijo
Nunca digo adeus.
Quando parto,despeço-me com um "até amanhã".É estranho,mas é verdade
Perdi a minha mãe há alguns anos,mas conservo gravado o seu número de telefone.
Rosebud,
Não é nada estranho, as despedidas são talvez das coisas mais intimas de cada um.
Também perdi o meu Pai há alguns anos e embora sabendo que haveria a forte possibilidade de não voltar a falar com ele, não consegui despedir-me.
Também tenho gravado números de telefone de pessoas que gostava muito e se foram e que não tenho coragem de apagar.
Agora bateu uma tristeza...
LBJ, se for para algo positivo, algo que te permita novos vôos, então aceno contigo :)
O adeus é definitivo mas sem dúvida que certas situações o exigem. Desde que tenhas essa certeza, força!
Abraço.
Treze,
Um adeus, se é uma escolha como é o caso, será sempre um ponto de dúvida, nunca se pode afirmar nesse instante que será algo positivo, apenas que acreditamos que sim.
De qualquer dos modos é sempre bom saber que alguém acena connosco :)
Um abraço
O passado vive no presente assombrando-nos constantemente. Quem me der ser quem já fui. Quem me dera dizer-me adeus, hoje. Mas há coisas que não voltam e somos obrigados a dizer adeus ao ontem...
Em tempos quando me diziam Adeus, eu respondia:
A(Deus) diz-se aos mortos. Que é para os encaminhar para o sítio certo. Para mim chega, até logo, até já, até breve ou simplesmente fica bem. E nessa concentração de não por limites às coisas, a vida vai andando menos pesada.
beijinho
Vani,
A única razão para querer ser quem já fui era poder vir a ser outra pessoa :)
WAI,
Adeus diz-se àquilo que nos morreu para trás.
Beijinhos
Há adeus que são meros virar de página, mas que ficam gravados para todo o sempre nas nossas memórias, há outros que são cortes profundos que deixam o sangue escorrer.
é sempre preciso saber como lidar com os ultimos para que o estancar não seja tarde demais.
:D eu vivo com este assombramento...já fui algo, ou melhor, já me senti alguém que estava destinado a coisas maiores. Tinha sonhos, tinha esperanças, tinha, sobretudo, vontade. Mas um dia acordamos e descobrimos que o Pai Natal não existe...e que a vida é uma grande peta que nos pregaram. Não nos falaram dos obstáculos. Não nos preveniram sobre as tenpestades. Não nos ensinaram a montar o cavalo, ao cair. Não nos explicaram como é que se reconquista a vontade.
Por isso, gostava de acreditar no Pai Natal, outra vez. E de voltar a ser quem era.
Gata2000
É de cortes profundos que falo, é uma boa descrição e espero conseguir estancar o sangue, mas as cicatrizes vão ficar...
Vani,
Entendo o que queres dizer, mas sem te poder contar muito, aquilo por que estou a passar é uma ruptura total, a todos os niveie que vão do pessoal ao sentimental e até profissional, um reset completo à vida e quero acreditar que vou continuar a acreditar, vais ver que um dia sem dares por isso vais perceber que embora o Pai Natal não exista, todos os anos há Natal.
Um Beijo
Caramba, jesus... É de mim ou estamos em sintonia nos "adeus"?
Correram-me as lágrimas... é isso que eu sinto.
Quanto ao trabalho de que falo no baunilha (sim, eu tenho 2 blogues, um de xaxa e outro dos segredos)nem sei bem como começou. Um dia descobriram que a gaja sabe os livros e os paragrafos e autores de cor e pediram-me um e outro trabalho. Entre amigos nunca levei nada. Só que os amigos contaram e mostraram a outros que não conheço e pronto... mas levo uma bagatela.
POR ENQUANTO! :p
Se quiseres dizer-me a tua area eu posso passar palavra!
:) Beijinhos menino
Natália,
Sintonias é sempre bom, faz-nos sentir acompanhados :)
Eu gostava mesmo era de transformar esta coisa de brincar com palavras em modo de vida, mas serão sonhos !?
Beijos
No meu caso é um ruptura total comigo mesma e profissional (aka não saber o que se quer). A Florbela Espanca e o Pessoa é q explicavam bem. ;-)
A mudança tem de ser para melhor. Se estás a mudar, é porque a vida antiga não te satisfazia. Por muito q custe romper com ela, serve sempre de referencia: não voltar a cometer os mesmos erros. É preciso coragem e sabedoria para isso. Eu ainda estou num ciclo vicioso em q não consigo deixar de repetir os mesmos erros...ainda nem descobri quais são (nos piores tempos dir-te-ia que o meu maior erro foi ter nascido... ahahahah, mas isso nã foi culpa minha, foi acidente dos meus pais ahahaha).
Vani,
A mudança deseja-se para melhor, nem sempre acontece o que percebes que nos deixa nesta situação de incerteza, a chamada angústia do guarda redes antes do penalti.
Relativamente a não saberes quem queres ser, olha sem te conhecer e te ir conhecendo destes meses de navegação por este mar, onde nos cruzamos de vez em quando os nossos barcos, parece-me que tens tempo e serenidade para poderes andar uns tempos à deriva com a vela levantada à espera que o vento a encha e te leve na direcção certa, percebeste a referência ao navegador solitário ;)
Vai sorrindo…
Bem, na verdade, se há coisa que não sou é serena. :)) eu engano muito :))
Digamos que tenho tempo, mas que se está a acabar e que as pressões para sair do barco à vela se intensificaram...
Vani,
A serenidade não é coisa que se veja, mas coisa que se sente. Eu acho que és mais serena do que pensas :)
Não saias ainda, deixa chegar este vento que parece que se anuncia :)
Recuso-me a dizer "adeus".
Utilizo "inté jaz" que é como quem diz...até sempre.
Bj
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