terça-feira, 7 de julho de 2009

Serpenteios


Há quem diga que sou cruel.

Há quem ainda diga que fui a serpente que invadiu o Éden, o primeiro intriguista, o primeiro motivador, o primeiro empresário, o primeiro politico, o primeiro entertainer, talvez sim ou talvez não, mas não fui eu que criei as maçãs, nem a capacidade de poder pecar nem a fome do desejo. Eu sou apenas um egocêntrico semeador de dúvidas.

Qual o padrão com que se mede a dimensão de um desejo?

Qual a velocidade com que se dilui a sedução numa solução de realidade?

Qual é a cor com que brilha uma ilusão?

Qual é a velocidade com que se extingue uma paixão numa estrada de ausência?

Qual é a forma com que se reveste um desencanto?

Qual é o som de um coro de lágrimas de desalento?

Qual é a imagem que sobra de uma memória dum futuro incerto?

Qual é o peso da solidão de um cheiro que se esvai?

Sibilo por entre preconceitos, transformo em gelo a incapacidade de sentir, num empedrado de emoções, vivo o reviver do teu passado e deixo-te morrer mais um dia.


Duffy-Live and let die

8 comentários:

Light Princess disse...

Ao ler-te, lembrei-me de uma das minhas músicas preferidas do carismático Jorge Palma...

"Deixa-me rir
Tu nunca lambeste uma lágrima
Desconheces os cambiantes do seu sabor
Nunca seguiste a sua pista
Do regaço à nascente
Não me venhas falar de amor

Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor, o que vai dizer
Segunda feira..."

Gostei das dúvidas, gostei das palavras misturadas, que parecem desavindas mas que aqui se encantam umas das outras falando na mesma língua.

O padrão, cor-de-luar em noite de Verão; a velocidade, a do bater do coração no meio de um beijo; a cor, a que nos mora no olhar; a forma, a do rosto que se toma nas mãos; o som, um violino à desgarrada; a imagem, a da sombra que torneia a esquina; o peso, o de saber-se em metades...

Fada disse...

Há quem diga, mas não és. Porque eu conheço-te desde o início dos tempos, desde antes dos sonhos tomarem forma e os pesadelos dominarem...

Qual o padrão com que se mede a dimensão de um desejo?
- O padrão de medida é a dor que nos causa a carência da não realização desse desejo, por si só também adimensional...

Qual a velocidade com que se dilui a sedução numa solução de realidade?
-Tao rápida quanto menor o poder sedutor...

Qual é a cor com que brilha uma ilusão?
-Cor de estrelas e sonhos, por vezes, "cor de burro quando foge"... :D

Qual é a velocidade com que se extingue uma paixão numa estrada de ausência?
-Desde um nano-segundo a meses... Tanto maior a velocidade quanto menor a paixão.

Qual é a forma com que se reveste um desencanto?
- Forma maleável de um cinzento-depressivo manchado de vermelho-sangue.

Qual é o som de um coro de lágrimas de desalento?
-O da chuva a cair dum céu sem nuvens.

Qual é a imagem que sobra de uma memória dum futuro incerto?
-A do que poderia mas não vai ser.

Qual é o peso da solidão de um cheiro que se esvai?
-O peso de um coração em cacos.

Não me deixes morrer mais um dia, pois eu quero viver... Anda, acordaste desse sonho, tens palavras para me dizer, e tu sabes que eu não morro, nem quero morrer...

Beijitos

mf disse...

A intensidade do que se sente.
Depende da honestidade com que se assume o que é realidade.
Não é cor, é clarão. Intenso.
Depende da dor que se sente ou deixa sentir.
Não tem forma. Está-se amarrotado.
O som do silêncio depois do grito.
Uma imagem desfocada.
O peso transportado por Atlas.

PS - O gelo também derrete. basta que lhe bata o sol quente.

Ana disse...

Pensei que a cena das maçãs já estava ultrapassada. Não há provas de que o fruto proibido fosse uma maçã...nem que tenha sido uma mulher a comê-lo,incitada por uma serpente. Quanto a mim, pode ter sido o homem que obrigou a semente a comer o dito. Ou apanhou a mulher a comer a serpente. Ou vice-versa.Ás tantas já nem sei onde quero chegar...a lado nenhum, provavelmente. :D

Lá tenho de me pôr a avacalhar nos meandros mágicos da conversa, né?... ;-)

Ana disse...

Onde se lê semente, deve-se ler serpente...muito interessante, este lapso freudiano... :D

Ana GG disse...

LBJ
Isto é muito serpenteado para a minha cabeça, sou mais de linhas rectas.
Mas ultimamente andas assim, todo "fantasias"...que se há-de fazer...

;P

Jane Doe disse...

Com a intensidade de um olhar.

A velocidade do desejo.

Branco. O resultado da junçao de todas as cores.

À velocidade da nao consumaçao.

Diamante estilhaçado numa queda.

Chuva que cai num poço vazio.

Um arco-íris sem cor.

O peso de uma memória sem lembranças.

" Com a intensidade de um olhar, e a velocidade do desejo, tudo se torna em branco.

À velocidade de nao consumaçao, o diamante, estilhaçado numa chuva que cai num poço vazio, desenha-se num arco-íris sem cor com o peso de uma memória sem lembrança.

(Nao tem de fazer sentido...)

Demóstenes disse...

Tantas questões e tão poucas respostas...