sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sobre uma noite numa árvore



Gosto de me transvestir de negro, deixar que a seda de um casaco de penas me cubra o corpo, de abrir as asas e sentir o vento e esconder-me por entre o contraste do verde e observar e de vez em quando soprar os meus ressentimentos de ser mais o que sou do que aquilo que não serei.

Sentados no banco, de traves de madeira maltratadas pelo tempo, um casal de apaixonados troca olhares e promessas de eternidades e outras banalidades fúteis.

O rapaz de olhos ambiciosos e mãos aventureiras – Gosto mais de ti do que alguma vez gostei de alguém, isto tem que ser o amor! – A palavra basilar de qualquer linguagem, usada com mestria é chave para todas as portas abrir , usada com sabedoria é química para transmutar qualquer vontade.
A rapariga de olhos expectantes e mãos perdidas – Tu dizes isso a todas, sabes que eu quando não estou contigo é como se faltasse uma parte de mim, adormeço a pensar em ti, sonho contigo e a primeira coisa que me vêm à cabeça quando acordo é o teu rosto, isso é que é amor! – A palavra trivial de qualquer linguagem, usada com naturalidade é porta para todas as chaves abrir, usada com normalidade é vontade para transmutar qualquer química.
O rapaz – Sabes que não, eu desde que te conheci que me sinto a flutuar nas asas do desejo – Poesia de cordel inspirada em títulos de filmes noir, sempre eficiente.
A rapariga – O que tu desejas é o meu corpo, poderes saciar a tua tesão – Poesia de fusão inspirada em títulos de filmes porno, sempre eficiente.
O rapaz – Sabes que não, eu apenas quero poder estar contigo, assim sentir o teu cheiro, a tua presença. – construção de pontes…
A rapariga – Então porque é que insistes em pedir-me mais do que te posso dar? – Implementação de portagens…
O – Sabes que não, apenas não consigo deixar de te querer, de te ter completa, minha, queria sentir-me uma parte de ti – Alargamento de faixas…
A – Mas eu não estou preparada, não sei se alguma vez estarei, temos tempo - Restrições à circulação…
O – Mas eu não sei se assim consigo aguentar. – Prelúdio…
A – Talvez seja melhor então acabarmos. - Tocata e fuga…
O – Não porque eu amo-te. – Afirmação e negação.
A – Sim porque eu amo-te. – Negação e afirmação.

I remembered my friend Willy when he asked me, what was the best way to understand love and whispered in the wind: Just dance…


Lady Gaga-Just Dance

17 comentários:

Ana GG disse...

Li apenas o texto na diagonal, depois comento.

Passei so para deixar un besito

Fada disse...

Puck...

Wanna dance?...

Kiss...

ipsis verbis disse...

Estereotipado. Mas, invariavelmente, natural e engraçado.

Pronúncia disse...

Achei piada aos teus comentários ao diálogo... andas inspirado!

LBJ disse...

Ana,

Só o facto de passares de tão longe já me deixa orgulhoso :)

Um Beso

LBJ disse...

Fada,

Let's dance, just say when...

Kisses

LBJ disse...

Ipsis,

Esteriotipado, será mesmo? Será que tudo o que parece lugar comum não é mesmo? As coisas mudaram assim tanto? Será que não complicamos demasiado a vida?

LBJ disse...

Pronúncia,

Por acaso até acho que ando pouco inspirado :)

Beijos Grande Mulher do norte

ipsis verbis disse...

"Esteriotipado, será mesmo?"
- O rapaz faz o papel de rapaz e a rapariga o de rapariga. É mesmo...

"Será que tudo o que parece lugar comum não é mesmo?"
- como é que se responde a isto?

"As coisas mudaram assim tanto?"
- pelos vistos, continuam na mesma.

"Será que não complicamos demasiado a vida."
- aqui estou contigo. Complicamos.

LBJ disse...

Ipsis,

Boys will be boys, girls will be girls… Sim é definitivamente um estereotipo, podes até considerar redutor dos géneros, inválido na actual evolução das relações, mas será que se pudesses ser corvo negro a escutar conversas de banco de jardim, não irias ouvir hoje esta conversa?

Não entendas mal este texto, a única mensagem que quero que fique é exactamente aquela em que concordas comigo, complicamos demasiado tudo na vida :)

Ana disse...

#soprar os meus ressentimentos de ser mais o que sou do que aquilo que não serei.#

Bolas, é assustador como entendo esta frase...

Ana disse...

Lol! E se eu te disser que já tive algumas conversas dessas?...quase tal e qual..."gosto tanto de ti que nem me importo que tenhas borbulhas na cara" e "senão o fazes é porque na verdade não me amas". Ah pois. Já tive a minha quota parte de esteriotipos.
O amor não é assim. :) O amor espera.

ipsis verbis disse...

LBJ,
Eu sei. E não penses que estou incomodada por este texto retratar tão fielmente (e de maneira muito engraçada) o que REGRA GERAL, acontece com os namorados. Falei em estereótipos porque eles estão no texto(no dia-a-dia e em todo o lado) mas não o considero sexista. E se eu fosse um corvo, é claro que ouviria este tipo de conversas.

E peço desculpa. às vezes consigo "destruir" uma coisa boa ao ver apenas um pormenorzinho. :)

LBJ disse...

Vani,

Claro que o amor pode esperar e o desejo desesperar :)

LBJ disse...

Ipsis,

Não peças desculpa e não destróis nada e eu adoro pormenores, perco-me por eles :)

Ana disse...

Desesperou um cadinho, lá isso... ahahahahah! ;-) Mas qd as coisas acontecem na altura certa, na altura em que todas as tuas sinapses te dizem que tens a certeza do que queres -ou não queres- não se pode ignorá-las! Agora, qd acontecem na altura errada e por pressões externas...é um pontapé num certo sítio! :D

LBJ disse...

Vani,

Tens toda a razão, mesmo na parte do desejo que esperas que eu deduza :)

Acho piada ouvir uma mulher falar de pontapés num certo sitio, fica sabendo que eu não sei o que são dores de parto, mas uma mulher nunca saberá a dor que é um pontapé em tal sitio :)