Parei o carro e saí. Não me pareceu importante o sitio onde o deixava, nem trancar as portas. Dirigi-me à beira da falésia sem ideias nem resoluções e olhei o mar. A luz da lua desfazia-se em reflexos de peixes prateados, espelhados na superfície como mortos, esta lua em noite de sombras incomodava-me. Deixei as pontas dos pés, alinhadas sobre o vazio e tentei-me a olhar o escuro.
- Por ai arriscas-te a falhar, a queda não deverá ser fatal – A voz veio repentina, seca, doce de mulher, por detrás de mim – Mais acima é mais certo, o voo é curto mas as rochas lá em baixo dão-te a garantia de que não acabas no hospital a lamentares a decisão.
-Eu não…- As palavras sufocaram, vi-a agora como um vulto, magra, aparentemente jovem, um pouco mais baixa que eu, de calças e camiseta justa, atraente. – Eu moro aqui perto, venho aqui para pensar - Disse sem convicção, enquanto lhe tentava perceber a dimensão dos peitos.
-Pois, sei, olha não quero saber se te vais mandar dai abaixo ou não, mas antes podias… não tens por acaso ai um cigarro? – Aproximou-se e pude ver um rosto magro, ainda indistinto, tirei o maço do bolso e passei-lho, sacou um cigarro e tirou um isqueiro do bolso e acendeu-o. Num instante de luz pude ver uma face de lábios carnudos e uns olhos castanhos enquadrados nas mais belas pestanas que alguma vez vira, não era uma mulher deslumbrante mas tinha algo que me perturbou e a escuridão voltou a ocultar-lhe o rosto.
-Esta lua atrai os suicidas – A voz continuava áspera, doce, sem sentimento – Deixa-me adivinhar, descobriste hoje que a mulher que te dava tesão, só andava a brincar contigo, que fodia com outro, ou com outros e apeteceu-te ver se tinhas tomates para acabar com aquilo que pensas ser a merda da tua vida? - Aquilo soou como um soco no estômago, quem é que esta gaja pensava que era – Olha, se moras aqui perto, não tens por acaso nada que se beba? Estou com sede e apetecia-me algo que me aquecesse a garganta e fizesse libertar este frio que sinto por dentro – Olhei-a incrédulo e virou-me as costas a olhar para algo que não estava lá, tentei entender como teria chegado, mas não consegui perceber nenhum carro, não podia simplesmente ter caminhado até ali, mas de repente isso deixou de importar e disse-lhe que sim, que podíamos ir até minha casa, que tinha uma garrafa de whisky por abrir, se lhe servia. Sem uma palavra dirigiu-se para o meu carro, entrou e fiquei ali parado por um instante aparvalhado sem saber o que fazer, depois encolhi mentalmente os ombros, entrei no carro e arranquei.
No caminho, não disse uma palavra e adivinhando-lhe a vontade, estendi-lhe o maço e sorriu enquanto acendia outro cigarro e pude perceber-lhe o corpo atlético, bem feito e o rosto e os olhos, aqueles olhos entre pestanas e sobrancelhas, que se talhadas pelo mais perfeito artista não podiam ser mais belas.
Enquanto subíamos as escada, fiz por ficar atrás e apreciei-lhe as formas. – Não me apalpes o cu, mas podes olhar, sei que o tenho ai atrás… - Engoli em seco e achei que a melhor coisa que podia dizer era o silêncio. Entrámos e fui buscar a garrafa e dois copos, enchi um de liquido dourado a oscilar a luz e estendi-lho, voltou a sorrir e pegou-o com a mão, levou-o à boca e bebeu quase com o bordo do copo a devorar-lhe o nariz, pequeno de ar irrequieto no meio dos olhos e das pestanas, aquelas pestanas não podiam ser reais. Andou pela sala, tocando ao de leve com as pontas dos dedos nos objectos por onde passava, nos livros na estante, nos CD’s, nos cães de porcelana e depois aproximou-se, primeiro o corpo, depois o rosto e os lábios sentiram os meus e beijou-me.
O beijo foi álcool e depois ardor e depois mel e depois sufoco e apertei-a nos braços e senti o seu corpo contra o meu, os peitos acolchoados contra o meu, os sexos roçaram-se e senti-me crescer, a minha masculinidade parecia não a incomodar e senti a sua mão e depois desapertou-me a camisa e deixou-me os lábios para me mordiscar um mamilo e senti um tremor que não podia ser da bebida e procurei de novo os seus lábios. Arrastei-a para cima da cama e puxei-lhe a camiseta pela cabeça e devorei-lhe o peito como se fosse a ultima coisa que faria na vida e empurrou-me para trás e fiquei a olhar-lhe não os olhos, mas aquelas pestanas e despiu-se e eu achei que também me devia despir e puxei-a de novo, nus, pele contra pele, suor que apenas se adivinha e cheiro, cheirava somente a mulher e estava a deixar-me louco.
-Olha há algo que tens que fazer primeiro, nenhum de nós quer acordar arrependidos de ter dado uma foda na sorte – tirou algo do bolso das calças, entretanto caídas no chão, que percebi ser uma embalagem de preservativo, rasgou a ponta, tirou a membrana e pegou-me no sexo – Queres tu pôr, ou ponho eu? – Só a olhei… Sorriu e beijou-me de novo enquanto a desenrolava e me cobria com um saber que me assustou, tentei não pensar nisso e senti a sua humidade com a pontas dos dedos, quis acreditar que tremeu.
De repente deitou-se sobre mim e mordeu-me os lábios e o gosto de sangue inundou-me os sentidos.
-Porque fizeste isso?
-Quero que me sintas amanhã, quero que me sintas depois de já não teres tesão, quero que sintas depois, quero que me sintas o cheiro quando passares a mão pela tua boca.
Voltei a beijá-la e o sangue deixou de ser sangue mas fluido de vida e penetrei-a e senti o seu encaixe e sintonizámos a nossa convulsão num esborrachar consentido, apertou-me por dentro e tentei resistir ao apelo do clímax, queria esperar por ela, como tinha esperado todo o sempre, beijei-lhe os olhos e comprimi o sexo e beijei-lhe os lábios ainda sangrando e de repente adivinhando o seu clímax deixei de estancar o meu e vim-me, vim-me como se deseja o momento da concepção de um filho.
Fiquei deitado, sem querer ofegar a querer o seu corpo a meu lado e não dei por adormecer.
Acordei sem surpresas sozinho, não sabia porque já o esperava, levantei-me e sobre a mesa uma folha de papel, escrita em letra redonda, feminina mas frenética, li quase sem respirar.
“Hoje à noite, sei onde vais estar, vais convencido que me encontras como um reflexo de lua e pode ser que sim e pode ser que não e vais olhar o mar e tentar-te no abismo, ai não estarei mas podes ainda sentir-me agora marcada nos teus lábios”
E corri a língua e senti…
Entre Aspas-Criatura da Noite
22 comentários:
Muito bom, muito bom mesmo. Parabéns!
Fantástico! Primeiro capítulo do sonho?... :)
Um beijo
Uau I'm amazed .
:D
Amei!
Simplesmente!
Parabéns!
Meus Deus!
Estou sem palavras, "apenas" arrepiada dos pés à cabeça...
Andam gajos a editar porcaria como o equador e estás aqui tu que escreve bem melhor.
É a ironia da vida
F A N T Á S T I C O!...
Venham os próximos capítulos... :)
Bruno Fehr,
Obrigado :)
Princesa,
Primeiro capitulo? Talvez, estou à procura da ponta para puxar ;)
Beijo
I.D. Pena,
I’m glad.
Kisses
I liked...
;)
kiss
Gostei da música que escolheste. Digamos que marca bem a dimensão do desvario e do jogo. :)
Fabuloso!
Quero mais!!! :D
beijitos
Jane,
Obrigado!
Simplesmente!
Ana,
:)
Forteifeio,
Bom, esse elogio deixou-me de olhos em bico, Obrigado.
E sim a vida é irónica…
Pronúncia,
Que mais não fosse porque pediste ;)
Blue,
Welcome :)
Thanks…
Kisses
Hedgie,
Gosto muito desta musica e andava a pensar escrever um texto para a enquadrar, quando acabei este ainda não tinha titulo e depois de repente pensei que tudo se encaixava, aqui foi a musica que deu nome ao texto.
Beijo
Fada,
Bem vinda companheira de armas ;)
Já vi que vou mesmo ter que continuar a história :)
Beijos
divino... louco e extravagante! Mas delicioso!
bjs
(jesus... uma gaja a morder-te os lábios?! máu!!!!!)
Natália,
Obrigado :)
A morder-me os lábios? I wish... ;)
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