terça-feira, 19 de maio de 2009

O pecador de palavras


Eu hoje sou nas palavras o seu pecador é por elas que me acordo no senso e mergulho no sonho é por elas que me visto na noite e transvisto no dia é por elas que me alimento no ar e nutro no fogo é por elas que sou sangue na tinta e paixão no papel é por elas que aqui estou e me ausento da vida é por elas que me perco ainda e ainda te reencontro.

A palavra é o meu pecado e todo o pecado tem penitencia e esta por vezes dói, condena-me a viver apenas de palavras , devoto e submisso imploro-lhes que não me faltem, que me indiquem a próxima sílaba, que me salvem da semântica linear e me perdoem a incoerência verbal num desejo egoísta do deslumbre fugaz do prazer que provoco a quem as lê.

Pago a penitência com o desalento da solidão, fechei-me entre palavras, elas são o limite do meu mundo, ansiava transforma-las em pontes mas solidificaram em muralhas, ocultam-me do passado absorvendo o presente sem promessas de futuro. Eu escrevo a palavra que define o pecado e a penitência que se define na palavra. Não sei mais se escrevo para quem me lê ou me leio por quem me escreve, mas são só palavras apenas pecados.

Hoje a minha vida é a palavra e a palavra não me suporta a vida, o meu pecado cria somente dependência desta penitência.
Mariana Aydar-Palavras não falam

12 comentários:

CB disse...

Leio-te, oiço-te, e entendo-te.
Um dia de cada vez, uma palavra atrás da outra, e um dia a penitência acaba, absolves-te e reconstróis-te.
Um beijo

Ana GG disse...

No espaço de meia hora é 3ª vez que cá venho...
O teu texto desconcertou-me, não consigo, agora, explicar. Não estava à espera de o ler assim nessas palavras de prisão, pecados e penitências.

Ainda vou voltar...
:S

Maria disse...

Muralhas.

"...E tu foste arrastado por mim para o meio deste turbilhão
Sem saberes que me leio em ti, cada dia, para saber de mim..."

palavras sem pontes.

Daniel C.da Silva disse...

"Pago a penitência com o desalento da solidão, fechei-me entre palavras, elas são o limite do meu mundo, ansiava transforma-las em pontes mas solidificaram em muralhas, ocultam-me do passado absorvendo o presente sem promessas de futuro"


O teu texto é muito, muito interessante. Tem muita matéria, quase psicalanisavel. Muito bom. Faz reflectir, mas nem de propósito o título do meu blogue: "sair das Palavras". :)

daria outro enorme texto teu but we have to kid with the words, also, and do not take the world that serious.

Abraços grandes :=)

LBJ disse...

Princesa,

Eu sei que me lês, que me ouves e que me entendes.

Por vezes pagar esta penitência, faz-me repensar na validade de continuar a pecar e se algum dia conseguirei a absolvição…

LBJ disse...

Ana,

Não te desconcertes, volta sempre que quiseres, sabes que a casa é tua.

LBJ disse...

Wai,

Procurei o texto que referencias-te e entendo porque o meu te fez recordá-lo :)

LBJ disse...

Daniel,

Creio que não percebeste esta minha prisão de palavras o teu conceito de sair das palavras têm outro sentido.

Brincar com as palavras é o que às vezes consigo fazer, mas nem sempre é possível ;)

Abraço

Daniel C.da Silva disse...

Claro que o "sair das palavras" tem outro sentido, por isso te disse que daria outro post teu :)

abraços :)

Storyteller disse...

Tenho estado ausente por motivos de força maior (leia-se informáticos), mas assim que volto deparo-me com este belo texto.
Peço-te desculpa, mas não concordo que as palavras sejam pecados. As palavras são dons. A utilização das palavras é uma Arte. As palavras têm Musa. As palavras podem ser de inspiração divina. E mesmo quando parecem vir de Anjos Caídos, as palavras são sempre a Redenção.
;)

LBJ disse...

Daniel,

Quiçá então outro post.

Abraço

LBJ disse...

Storyteller,

As minhas palavras são dons passageiros, arte gratuita e as musas sim inundam os meus sonhos e soltam-nas, mas não as atribuo a nenhuma inspiração divina e há muito que deixaram de ser redenção.